Estamos a menos de dois meses da escolha da nova diretoria executiva da Ponte Preta. Será responsável por conduzir os destinos do clube pelos próximos quatro anos. Por estimativas conservadoras, boa parte dos eleitores devem sacramentar o seu voto na chapa da situação, que tem três opções: o atual presidente Vanderlei Pereira, o ex-deputado estadual Sebastião Arcanjo, o Tiãozinho e Gustavo Valio, atual diretor financeiro.
Se na situação o quadro é indefinido, na oposição o mistério prevalece. Apesar da liderança de Miguel de Ciurcio e alguns componentes de oposição ferrenha como André Carelli, não há um nome definido.
Pior: ninguém sabe ou conhece os planos da situação ou da oposição. A negação da política em seu estado mais bruto.
Um cenário com prejuízo terrível.Independente daquilo que acontece no gramado, não deveria ser pecado discutir e analisar os planos para os anos subsequentes. A torcida não quer um título? Não deseja ser protagonista no futebol brasileiro?
Como fazer isso sem uma diretoria executiva com planos delineados e um Conselho Deliberativo atento e combativo? Quem posterga a discussão em nome de uma “tranquilidade” na Ponte Preta não beneficia a situação ou atrapalha a oposição. No final das contas, distorce o futuro da própria Ponte Preta.
Em sua história, a Macaca teve presidentes conhecidos por gestões marcantes como Edson Aggio, Lauro Moraes, Sérgio Abdalla, Rodolpho Pethená. Homens com feitos e atitudes que fizeram a Ponte Preta crescer. E que tinham uma oposição atuante, fiscalizadora e integrada a um Conselho Deliberativo plural.
Tanto que os livros sobre a história da Ponte Preta, de autoria de Sérgio Rossi, contém a descrição de diversas reuniões em que diretores de futebol e presidentes são chamados por conselheiros para esclarecerem sobre salários, transferências e montagem do departamento de futebol profissional.
Foi com tal fórmula que a Ponte Preta conseguiu no Século 20 quatro vice-campeonatos paulistas, um terceiro lugar no Brasileirão de 1981 e jogadores revelados para a Seleção Brasileira.
Pergunto: se a radicalização da democracia, do debate, da troca de ideias deu certo em boa parte da história da Alvinegra, por que seria neste momento a hora de abrir mão de conceito tão precioso?
Democracia não pressupõe escancarar a porta para a oposição. E nem permitir que a situação sufoque os contrários. Democracia significa ouvir os dois lados, confrontar projetos, trocar ideias e fortalecer o futuro.
Acreditar que um processo eleitoral pode contaminar 30 jogadores que trabalham no dia a dia é vaticinar que o torcedor pontepretano ou é alienado, bagunceiro ou sem condições de escolher seu futuro. Depende de tutores.
As agressões em Viracopos? Certamente não são de autoria de opositores ou situacionistas revoltados e sim de gente inconsequente. Porque quem acredita na democracia levanta a mão apenas para declarar o seu voto.
Por considerar-se o clube mais velho do Brasil, está na hora da Ponte Preta exibir amadurecimento. Torcer sim para que o time corresponda no gramado e consiga a permanência no Brasileirão, mas ao mesmo tempo exibir o discernimento suficiente para permitir o debate e a troca de ideias e de projetos entre as chapas.
O exercício do voto e da democracia não pode ser considerado um atraso, especialmente em uma instituição que sempre teve o pioneirismo como característica.
(análise feita por Elias Aredes Junior)