Processo eleitoral é paixão. Razão de mãos dadas. Cada voto é precioso na luta pelo poder. É assim na prefeitura, governo de estado, Presidência da República ou clube de futebol. A Ponte Preta não fica atrás. Sérgio Carnielli, condutor do grupo político que está há 20 anos no poder já lançou sua chapa. A oposição luta para viabilizar e inscrever. Ouso dizer que este não é o principal desafio do grupo desafiante e sim a de fomentar esperança de dias melhores naqueles que vão votar. Vou além: vencer a dúvida é o principal desafio. Por enquanto não está derrotado. Pelo contrário.
A Ponte Preta vive instante inusitado e ao contrário do que muitos pregam nos dias atuais, a política pode sim explicar muita coisa. Há um sentimento de ódio e ressentimento na arquibancada contra a atual diretoria. Mágoas por falta de títulos, investimentos robustos e especialmente distanciamento do sentimento do torcedor. Não há conversa ou diálogo. Soberba em estado bruto.
Ódio não dá voto
Então é motivo suficiente para derrotar a situação? Nada disso. Seja qual for o quadro, o que faz alguém sair de casa para votar em qualquer candidato ou grupo é o convencimento de que algo vai mudar. Em suma: vai melhorar. Caso contrário, na dúvida, muitas vezes o mesmo eleitor que reclama tapa o nariz e vota naquele candidato que não gosta, apenas pela convicção de que o outro lado não vai melhorar ou vai até agravar o quadro. Dou exemplo prático: o hoje deputado Paulo Maluf perdeu várias eleições não porque o eleitor considerava que ele era pior do que o oponente, mas porque considerava que ele poderia destruir o pouco que já tinha.
Seja um clube de futebol, comunidade de bairro ou qualquer eleição majoritária, existe um grupo fixado ao lado da oposição e outro para situação. Cada um tem em média, 20% do eleitorado cativo. O que decide são os eleitores flutuantes, em aproximadamente 60%. Esse contingente pode ser muito menor na Macaca? Pode até pela diminuição no número de votantes e a saída de eleitores pontepretanos típicos e a entrada de eleitores que muitas vezes nem frequentam as reuniões do Conselho e mesmo assim ratificam seu apoio ao grupo de Carnielli. Ainda assim, o eleitorado flutuante é um colégio decisivo.
Perguntas que não foram respondidas
Vanderlei Pereira está há três anos no comando da Ponte Preta. Bem ou mal, sabemos sua conduta e estilo de administração. Pergunta: qual a ideia prática a oposição apresentou como contraponto ao seu modo de gestão? Vai gastar? Vai investir? Economizar? O que vai fazer? Se você perguntar ao torcedor que não está engajado em nenhum dos lados, ele dificilmente saberá responder.
Gustavo Bueno é o homem forte do futebol da Ponte Preta. Recebe críticas. Mas quem cuidaria do futebol pontepretano em caso de vitória da oposição? Um executivo remunerado? Um ex-jogador pontepretano? Um dirigente histórico? Pois é. Nenhum torcedor de arquibancada tem essas respostas na ponta da língua. Então como assegurar o voto do conselheiro?
Dou como contraponto a eleição do ano passado no Internacional de Porto Alegre. Marcelo Medeiros era o candidato a presidente pela oposição e nunca escondeu no processo eleitoral a sua preferência para que Roberto Mello, conhecido nos bastidores, assumisse o futebol. Ou seja, transmitiu segurança ao eleitor que depositaria seu voto na oposição. Na Ponte Preta, ainda não aconteceu coisa parecida.
Vou mais longe: qual será a política salarial do futuro elenco comandado pela oposição: terá medalhões? Investimentos nas categorias de base? Jogadores sedentos por projeção? Se você, raro leitor, não tem noção, o que dirá este que vos escreve, na labuta há anos do futebol e do jornalismo esportivo.
Você pode argumentar que a Macaca já tem verba assegurada, mesmo com vaga na segundona nacional. Posso até concordar. Mas para viabilizar um time forte em qualquer divisão seria de bom grado contar com investimentos, pessoas ou instituições com capacidade de investimento e com seu respectivo retorno em médio e longo prazo.
Na situação sabemos que em quadro de emergência, Sérgio Carnielli coloca a mão no bolso e dá socorro, algo que não faz há quatro anos. Pergunta que não quer calar: quem fará isso pela oposição? De onde virá o dinheiro? É algo que o torcedor comum tem direito de saber e os oposicionistas não esclareceram de modo prático.
Sei que muitos dirigentes históricos da Ponte Preta e ilustres torcedores estão inseridos na oposição. São defensores da manutenção do Estádio Moisés Lucarelli. Ok. Mas como melhorar as instalações do Majestoso? Vai transformar em arena? De que forma? Qual seria a fonte de financiamento?
Mais: e o Centro de Treinamento do Jardim Eulina? Como melhorar as instalações de um local que já está absoleto em relação aos concorrentes? São respostas que do modo adequado, podem gerar esperança e transformar a Ponte Preta em um novo clube.
Ideias que geram paixão e esperança
Alguns podem alegar que se eu participasse de reuniões do grupo de oposição eu estaria por dentro do assunto. Não é por aí. Primeiro porque sou jornalista e tenho “N” maneiras de buscar a notícia. E nesta época de redes sociais, transmissão vertiginosa da informação, uma política de comunicação bem feita poderá alastrar a informação como pólvora. Não esqueça: o homem mais poderoso do mundo foi eleito em boa parte devido a sua atuação nas redes sociais. A oposição falha em tal aspecto? Eu digo que sim.
Relembro algo vivido pela própria Ponte Preta. Em meados da década de 1990, a Macaca realizou eleições em clima de desesperança. A Macaca vinha de duas gestões decepcionantes, de Marco Chedid e de Peri Chaib. Eis que surgiu Nivaldo Baldo com um discurso de modernidade, de mudança de parâmetros e profissionalização do futebol. Foi eleito em janeiro de 1996 e saiu em setembro do mesmo ano. Mas só sentou na cadeira porque vendeu esperança e dias melhores ao eleitor.
Hoje, muitos componentes da oposição imaginam que o ódio da torcida por Carnielli e seu grupo será suficiente para viabilizar votos. Sem ideias, respostas convincentes e um clima otimista, para cima não há como imaginar outro cenário senão a manutenção de Vanderlei Pereira na cadeira.
(análise feita por Elias Aredes Junior)
Observação: há duas semanas, o Só Dérbi enviou um questionário sobre suas propostas para as duas Chapas. Não teve nenhum retorno até o momento.