Carta Aberta aos integrantes do Conselho de Administração do Guarani Futebol Clube

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Campinas, 24 de novembro de 2017

Ola? Tudo bem?

Não vou esticar as apresentações porque tenho consciência de que vocês me conhecem. E eu conheço vocês. Não pessoalmente. Mas pelas ações, atitudes, promessas e posturas.

Antes de entrar no ponto central desta carta, quero contar duas histórias. A primeira foi vivida pelo jornalista Luis Nassif, pioneiro em enfatizar a prestação de serviços na editoria de economia a partir da década de 1980.

Proprietário de um blog de grande audiência, o jornalista começou a fazer uma série de reportagens e artigos sobre os problemas, erros e equívocos da Revista Veja e como tal procedimento era danoso ao jornalismo brasileiro. Colheu consequências inesperadas: foi massacrado, perseguido e suas filhas atormentadas na escola e redes sociais. Passou por um furacão.

Eis que chegamos ao ano de 2017. A repórter Gabriela Moreira, da ESPN, faz uma reportagem sobre o trabalho de espionagem conduzido pelo Grêmio para chegar as finais da Libertadores e nas outras competições do calendário, o Gauchão, Copa do Brasil e Brasileirão.

Ao invés de responder delicamente,  torcedores gremistas invadiram a página da jornalista no Facebook e insultaram e baixaram o nível contra a profissional. Um show de horrores. Os dois casos têm algo em comum: desapreço pela democracia. Falta de compreensão em relação ao papel do jornalismo.  Os antagonistas parecem que nutrem no fundo um desejo incontido por sufocar vozes contrárias.

Queiramos ou não, há três anos vocês parecem com uma vontade, uma fissura de tomar atitude semelhante comigo e outros profissionais de imprensa que adotam o mesmo caminho. Por causa de reportagens claras e fundamentadas que publiquei no jornal “Tododia”, fui impedido de entrar nas dependências do estádio Brinco de Ouro.  De exercer a minha profissão. Sobrevivi. Hoje, o próprio condutor da medida, o ex-presidente Horley Senna, reconheceu os excessos. Teve a dignidade de reconhecer que o jogo da opinião pública é ríspido, forte, excessivo e por vezes até cruel, mas deve ser conduzido com galhardia, cavalheirismo e altivez. Algo que sempre verifiquei, por exemplo, no ex-diretor de futebol da gestão Marcelo Mingone, Claudio Corrente e no ex-presidente Álvaro Negrão, que foi uma decepção. Mas jamais perdeu a educação, a gentileza. Entendia a função da imprensa.

Infelizmente, registramos focos de resistência no Guarani. Dirigentes e integrantes do próprio Conselho de Administração seduzidos pela volúpia de encurralar e constranger os profissionais de imprensa que assim como eu só querem fazer seu trabalho de maneira crítica e independente. As táticas para chegar a tal expediente são diversas. Uma delas chegou aos meus ouvidos ontem, quinta-feira, dia 23 de novembro, por volta das 16h40.

Um aliado da atual  direção do clube me relatou que um integrante do Conselho de Administração (detalhe: não é o presidente Palmeron Mendes Filho) utilizava grupos de Whatsapp para difamar e caluniar não só este que vos escreve, mas até a minha família. A pessoa, solícita, ofereceu-se para tomar um café e exibir os áudios. Em um primeiro instante declinei e falei que iria pensar.

E cheguei a várias conclusões. A primeira é que uma hora ou outra o produto deste massacre midiático chegará às minhas mãos. E quando chegar certamente tomarei medidas judiciais cabíveis. Em segundo lugar, comecei a refletir: o que essa pessoa deseja?

Que eu manipule, engane o torcedor bugrino para transmitir a ele a sensação que o mundo bugrino é lúdico, sem máculas? Que todos os dirigentes são perfeitos? Que eles não erram? Ora, eu iria contra a minha formação profissional, de caráter e familiar se escondesse do torcedor bugrino que a campanha na Série B foi decepcionante. Que Juventude, com 51 pontos e Boa Esporte, com 49 pontos e  ambos caçulas, fizeram campanhas muito mais consistentes.  Como posso ignorar que o mesmo Conselho de Administração mesmo que indiretamente deu aval para a demissão por telefone de um técnico com a história e a trajetória de Oswaldo Alvarez, o Vadão?

Tanto neste Só Dérbi como na Rádio Central, tanto em relação aos dirigentes bugrinos e pontepretanos jamais fiz ou farei ilações sobre a conduta moral. Porque este é um assunto sério e não pode ser feito de maneira irresponsável. Mas tenho todo o direito e até dever de apontar falhas, equívocos e incongruências administrativas cometidas nos gabinetes.

Os resultados no gramado se constituem em fruto direito da incompetência reinante nos bastidores. Ou dá para aceitar o Guarani por quatro anos seguidos na terceirona? E a quinta participação na Série A-2 do Paulistão de 2018? Isso é fruto de eficiência?

Cobro e continuarei com tal postura porque o Guarani já esteve na Vanguarda. Abrigou a excelência. E porque agora precisa acostumar-se com a miséria e a mediocridade?

Ao invés de integrantes do Conselho de Administração perderem tempo em atacarem profissionais de imprensa porque não mudam o disco? Por que não procuram a Faculdade de Educação Física da Unicamp, da Puc-Campinas para viabilizar intercâmbio e troca de informações? Por que não dão um pulo em clubes como o Atlético-PR para descobrirem o caminho das pedras para saltar de um patamar mediano para a vanguarda?

Por que não verificam se não há cursos chancelados pela CBF para a formação de dirigentes? Vou mais longe: por que não uma intensificação de contatos com o executivo de futebol do Paraná, Rodrigo Pastana para recordar a fórmula que tirou um clube com estadia de 10 anos na Série B e lhe levou para a divisão de elite mesmo com problemas financeiros? O que impede de copiar aquilo que é bom?

Garanto que tais atitudes são bem mais compensadoras do que atacar e difamar pessoas que apenas quer exercer um trabalho que tem os dois clubes objeto do seu trabalho.

 

Com estima

 

Elias Aredes Junior