Carta aberta aos jogadores da Associação Atlética Ponte Preta

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Olá? Tudo bem?

Confesso minha resistência a adotar formalismos. O momento é decisivo. Pede atitude. Raça. Determinação. Superação. E todos esses ingredientes já estão sendo colocados em campo. Sem dúvida. A dedicação de vocês é comovente. Apaga em parte a decepção, o choro e a tristeza sentida por milhares de torcedores desde o início do ano. Gente capaz de tirar o dinheiro do sustento dos filhos para ver a Ponte Preta em campo. É entrega total sem querer nada em troca.

Vocês são profissionais da bola. Um sonho brotou na alma e todos foram com a cara e a coragem em busca do olimpo. Quantas histórias diariamente cruzam neste vestiário do Majestoso ou do Centro de Treinamento do Jardim Eulina? Meninos pobres que correram para tirar mães e pais da pobreza; homens que ultrapassaram barreiras econômicas e sociais para pisarem no gramado. Personagens sem pudor em encarar um esporte cruel, excludente, elitista, corrupto. Vocês são vencedores. Passaram por um filtro que só premia os fortes.

Hoje vestem uma camisa centenária. Histórica. A Ponte Preta é diferente. Não há como ignorar seus feitos e fatos que dia após dia é recordado pela imprensa. Ah, imprensa impiedosa!?. Somos insensíveis. Concordo. Sem nenhum viés de ironia. Elegemos heróis, produzimos vilões e inconscientemente conduzimos a opinião publica de uma maneira que transforma a vida de vocês em um inferno. Ou em um paraíso dopante.

Só que chegou a hora de trégua. De paz. Não vou falar dos defeitos e problemas. Já abordei e comentei nas 36 rodadas da Série B. Critiquei a troca de técnicos e os erros administrativos. Estes permanecem. Problemas que todos vocês sentiram na pele. E cada jogador, atleta e componente da comissão técnica teve que se desdobrar para ultrapassar tais imprevistos.

A hora mudou. Vocês estão a 180 minutos de produzir uma alegria inenarrável ao torcedor pontepretano. Sofrido. Apaixonado. Esperançoso. Intenso. Porque paixão não se planeja. É vivida.

A motivação está acalentada. O acesso dará um contrato novo, uma nova perspectiva profissional, uma abertura para proporcionar dignidade a cada homem que entra neste vestiário e calça um uniforme que tem peso, tradição, lastro. Amor em estado bruto.

Proponho uma volta no tempo. Fechem os olhos. Pensem quando vocês tinham sete ou oito anos. Façam uma reconstituição da inocência, da pureza que tinham pelo futebol. Recordem a alegria, a explosão de sentimentos produzida quando o time de coração marcava um gol ou celebrasse um titulo. Reviva os dias e dias de júbilos gerados por heróis. Desbravadores que lhe serviram de inspiração para que duas vezes por semana, por 90 minutos, vocês sejam dotados destes superpoderes concedidos por uma massa humana indescritível.

Poderes estes que agora podem abrir um sorriso ou derramar uma lágrima de jubilo em uma criança, um adolescente, um jovem que estiver sentado na arquibancada do Majestoso e depois na Ressacada. Tenham empatia. Coloquem-se no lugar dessas pessoas. E verão o que estará em jogo.

Estes anônimos têm um único desejo: um pedaço do universo em troca de uma felicidade eterna traduzida em uma palavra: acesso. Um milagre. Que pode curar. Restaurar. E transformar renegados em redentores. Para sempre.

Joguem por eles. Lutem por eles. Sonhem e realizem por eles. Quando as almas se juntam não há nada que possa impedir. Acreditem. Vale a pena.

Um abraço.

Boa sorte

Deus abençoe vocês e a Ponte Preta

 

Elias Aredes Junior

Jornalista