Carille, Jorginho, Loss, Abel. Treinadores. Ricos. Poderosos. Influentes. Querem sempre mais. Sem contestação

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durante o jogo Corinthians/SP x Sao Paulo/SP, realizado esta noite na Arena Corinthians, valido pela 7a. rodada do Campeonato Paulista 2019. Juiz: Lucas Canetto Bellote - Sao Paulo/SP - Brasil - 17/02/2019. Foto: © Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians

Na entrevista coletiva após a vitória sobre o São Paulo, o técnico Fábio Carille alfinetou a imprensa, como tem feito em outros jogos. Reclama das criticas, da má vontade com seu trabalho. Não está só. Abel Braga é outro sequioso por elogios mil. Felipão, Tite, Mano Menezes ou Parreira. Todos querem ditar a pauta dos veículos de comunicação. Campinas não fica atrás. Osmar Loss, competente e antenado, transmite toda a impressão de ser um consumidor de media training. Palavras bonitas de um lado e fechamento de treino na prática. Jorginho, por sua vez, tem um discurso correto, pronto a convencer a todos. Mas também fecha treino como seu colega de oficio. E faz muxoxo com qualquer crítica.

Não que a imprensa não mereça. Passamos por uma crise de conteúdo sem precedentes. A reportagem foi ignorada e ficamos pasteurizados, mecânicos, sem instigar a sociedade em nome de transformar a tarefa em entretenimento puro. Nomes como Gabriela Moreira, Mauro César Pereira, Lúcio de Castro e Camila Mattoso (hoje na editoria de política da Folha de S. Paulo) parecem que estão no lugar errado. Não há como negar que caímos de qualidade e precisamos discutir uma forma de oferecer um produto que traduza a importância e a dimensão histórica e cultural do futebol no Brasil.

Agora, não podemos esquecer algo. Pode ser dolorido para alguns lerem tal conceito mas é necessário. Treinadores de futebol das duas principais divisões do futebol brasileiro fazem parte de uma casta seleta da sociedade brasileira. Traduzindo: são ricos. Ou muito bem de vida. Existem exceções? Sim. Mas a maioria é. Fato. Fruto do suor e do trabalho? Verdade. Mas são ricos. Fato. Mesmo quem atua em Campinas não tem direito de reclamar. Quem treina Ponte Preta ou Guarani ganha uma faixa salarial que vai de R$ 50 mil a até 100 mil mensais. Ou para ser mais exato: de R$ 600 mil a R$ 1,2 milhão anuais. Só para se ter uma ideia, de acordo com o IBGE um trabalhador que alcança o topo da pirâmide em qualquer profissão recebe aproximadamente R$ 27 mil mensais em media. Ou seja, até os treinadores de Ponte Preta e Guarani recebem bem acima de um trabalhador brasileiro. Basta recordar que 44 milhões de brasileiros recebem um salário mínimo. Ou seja, mesmo que fiquem um ou dois meses no clube, um treinador de futebol de ponta tem direito a receber aquilo que um trabalhador no Brasil talvez sequer veja na sua vida.

E por que vou nesta questão econômica? Porque no Brasil, um país injusto, dinheiro é sinônimo de poder, influência e de ascendência sobre as classes mais carentes ou de menor poder aquisitivo. Este é o ponto. Não deixo de reconhecer os problemas da imprensa esportiva brasileira. São muitos. E precisam ser discutidos e conversados, algo pedido por exemplo por Juninho Pernambucano, antes de sair do Sportv. Mas a relação dos treinadores com os jornalistas chega a ser cruel. Pressionam, constrangem profissionais que em boa parte dos casos ganham salários modestos e que sequer são amparados por suas empresas. Que muitas vezes são comandados por editores que exigem ou a pergunta a ser feita na coletiva. E se não fizer? Rua. Simples.

Fábio Carille, Jorginho, Osmar Loss e outros são integrantes de uma casta que não percebem o quanto o seu poderio econômico é um instrumento de massacre para profissionais que desejam apenas viver com dignidade. E cobranças fazem parte do jogo. Podem e devem prestar contas. Estão no topo da pirâmide. E isso tem um preço. As críticas da imprensa estão no pacote.

Mais: seus salários são viabilizados graças a uma série de benesses concedidas pelo poder público em relação a isenção de impostos e outras obrigações nas quais os clubes não pagam. Se eles deixam de pagar, tanto a instituição quanto seus funcionários precisam ser submetidos ao escrutínio público. É o mínimo.

Expus o tema para alertar ao raro leitor e rara leitora o quanto o futebol é uma bolha. Que cria seres, antes desalojados e que inconscientemente consideram-se acima do bem e do mal. Isso precisa mudar. Só não se sabe o dia.

(análise feita por Elias Aredes Junior- foto de Daniel Augusto Júnior- Agência Corinthians)