A Ponte Preta concedeu apoio total ao “Outubro Rosa”, marcado por um período de difusão de informações sobre a prevenção e tratamento do câncer de mama. O estádio Moisés Lucarelli será utilizado para a realização de exames e os jogos se constituirão em palco de ações afirmativas. Uma ótima iniciativa e capaz de provocar uma reflexão: as oportunidades perdidas pelo futebol para ser um canal de formação e cidadania.
Todas as semanas, milhões e milhões de pessoas separam um período de seu tempo para acompanhar o Campeonato Brasileiro. Na Macaca, o quadro não é diferente. Apesar da baixa presença de público no Brasileirão (média de 4664 pagantes por jogo), as redes sociais e as audiências dos veículos de comunicação comprovam que a mobilização é constante.
Podemos afirmar que por duas horas em Campinas pelo menos 400 mil pessoas prestam atenção em tudo aquilo que acontece no Majestoso. Sim, elas querem saber o resultado do jogo, sonham com a conquista de um titulo ou chegada a Copa Libertadores. E são capazes de absorver outras mensagens e conceitos.
Esqueça a parte esportiva e imagine por um instante se tal mobilização fosse utilizada para algumas ações simples e diretas. Exemplo prático: a Ponte Preta tem participação importante na luta contra a discriminação racial no futebol brasileiro. Vejam este dado: segundo o IBGE, em 2004, 16,7% dos alunos pretos ou pardos estavam em uma faculdade; em 2014, esse percentual saltou para 45,5%. Imagine utilizar por exemplo o site oficial da Ponte Preta para propagar histórias de torcedores (negros, pardos e brancos) que conseguiram transpor a barreira social e que hoje são até consumidores plenos da Macaca (compram camisa, comparecem aos jogos) graças a ascensão social? Seria uma forma de propagar boas histórias e demonstrar como não só o time, mas o seu torcedor melhorou.
Se o placar eletrônico fosse utilizado para alertar sobre leis disponíveis para combater o racismo e o preconceito? E se ações fossem implementadas para incentivar a prática esportiva entre as crianças, como por exemplo intensificar a ida de crianças de escolas públicas aos jogos?
Mais: arregimentar pontepretanos famosos para participar de campanhas institucionais que utilizassem o futebol como instrumento de tolerância seja de convivência politica e social?
Imagine ainda a Ponte Preta com capacidade de abraçar ações que possibilitassem a projeção do futebol feminino ou até de atletas paralímpicos. O dinheiro é curto? Só dá para sustentar o futebol? Concordo. Mas será que nenhuma empresa poderá interessar-se em utilizar a marca da Ponte Preta não só para buscar resultados e sim a busca de cidadania plena para atletas tão desprezados e queixosos de projeção na opinião pública?
A Ponte Preta não sabe a força que tem. O dia que tiver pleno conhecimento não será capaz apenas de produzir glórias impensáveis no gramado, mas também de ajudar a modificar a realidade social de Campinas e das 18 cidades da Região Metropolitana.
(análise feita por Elias Aredes Junior)