Neto e Amoroso: idolos da torcida bugrina. Que ficaram ainda mais gigantes após pendurarem as chuteiras. Como explicar?

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Esperei a passagem do aniversário de Neto, ex-jogador do Guarani e atual apresentador da Band para construir este meu pensamento. Neto recebeu cumprimentos de muitos torcedores bugrinos. Ouso dizer que tanto ele como Amoroso são na atualidade muito mais queridos pela torcida bugrina do que quando estavam nos gramados.

Faça uma retrospectiva. Amoroso era uma sensação nas categorias de base em meados da década de 1990. Fez uma tonelada de gols, foi emprestado e atuou pelo futebol japonês e tinha um faro de gol absurdo. Foi o melhor jogador do Brasileirão de 1994 e em 1995, com a volta de Djalminha ao Brasil, o torcedor bugrino se encheu de esperança.

Por questões de lesões e das ciladas da bola, Amoroso teve seu legado construído muito mais no Borussia Dortmund, Udinese e no São Paulo do que propriamente no estádio Brinco de Ouro. Detalhe: Amoroso andou, jogou, conquistou e nunca esqueceu do Guarani. Apesar da atuação em poucas temporadas no time profissional.

Neto tem trajetória um pouco diferente. Surgiu jovem em 1984 e por divergência com a direção do clube acabou sendo emprestado para Bangu e São Paulo antes de explodir para valer no Campeonato Paulista de 1988 com a camisa bugrina. Depois foi para o Palmeiras, posteriormente trocado por Ribamar, do Corinthians. O resto é história. Retornou em curta passagem no Brinco de Ouro em 1995. Voltou como gerente de futebol bugrino no inicio do século 21, mas com um saldo que gera controvérsia até hoje. Ele não esconde sua predileção corinthiana, mas não cospe no prato que comeu. Pelo contrário.

Se analisarmos friamente, são dois jogadores com história no clube, mas que não tiveram tempo de construir um currículo extenso no time principal. Então, o que justifica a idolatria?

Simples: eles ocupam duas lacunas geradas por anos e anos de incompetência. Primeiro no gramado. Excetuando-se Fumagalli, quem foi ídolo incontestável do Guarani nos últimos 10, 15 anos? Mais: qual jogador que após a saída do Guarani demonstrou carinho, amor e devoção pelo clube? Jonas? Concordo em parte. Sua ligação com o Benfica é mais profunda. Então, mesmo que não joguem, Amoroso e Neto representam o ideal buscado pelo torcedor bugrino dentro de campo. E toquemos na ferida: tem muito atleta campeão brasileiro com o Guarani em 1978 que não demonstra o amor pelo clube como faz a dupla. Fato. Claro, não está incluída na relação gente como Gersinho, Careca, Bozó, Renato Morungaba.

Para variar, lógico, os dirigentes são culpados pelo protagonismo de Neto e Amoroso. Queiramos ou não, não há nenhum dirigente com passagem pelo clube desde 2000 do qual o torcedor bugrino possa se orgulhar de modo irrestrito. Ou que tenha defendido o clube de maneira implacável. Ou que exale credibilidade pelos poros.

Você pode até discordar. Considerar que ambos defendem o Guarani da boca para fora. Não concordo. Até porque possuem um ativo precioso: credibilidade no mundo da bola. Quando eles falam as pessoas param para ouvir. Ou boa parte. Eu, particularmente, tenho sérias restrições ao estilo de trabalho do Neto no jornalismo esportivo. Questão de gosto. Mas as pessoas escutam o que ele tem a dizer. Principalmente em relação ao Guarani. Isso não pode ser ignorado. De Amoroso, nem precisa esticar o argumento. Briga e defende o Guarani nos meios de comunicação. E é ouvido. Pelo público. Porque pelos dirigentes…

Enquanto perdurar o deserto de ideias e de talentos de ponta  no Brinco de Ouro, a idolatria em cima de Amoroso e Neto vai permanecer. Com justiça.

(Elias Aredes Junior)