Nos últimos tempos entrei em processo de reflexão sobre a profissão. Não somente a questão de como exercer de modo digno e decente o jornalismo, mas uma maneira de utilizar o meu ofício para ser uma pessoa melhor. Para família, parentes, amigos.
O que percebo no jornalismo esportivo em geral é a prevalência do vírus da vaidade. A sensação de que temos ideias prontas. Para tudo. Especialistas e capazes de dar um diagnóstico certeiro.
Vivemos um cenário de engano.
Ninguém é 100% sábio ou inteligente para saber de tudo que envolve uma modalidade esportiva tão complexa.
Exemplo prático: comentário de jogo. Antes mesmo da bola rolar qualquer comentarista já perde de goleada.
Seja quem for: PVC, Maurício Noriega…Qualquer um! Por que? Não assistimos aos treinos, não estivemos no vestiário, não conhecemos o dia a dia e os sofrimentos dos atletas. Como podemos descarta-lo como se fosse um pedaço de papel? Não temos esse direito. Eu já fiz isso. Tento mudar. Não é fácil.
Outra: quem sou eu para dizer que o treinador deve jogar de modo A,B ou C? Podemos ter formação na CBF Academy mas jamais teremos a profundidade que está nas mãos de qualquer treinador ou dirigentes.
Temos tantos aspectos envolvidos no futebol e que desejamos atuar como deuses, seres acima do bem e do mal? Jogador lesionado? Passamos a frente dos médicos! Reforma ou construção de estádios? Ignoramos a opinião de engenheiros e arquitetos.
Jogador mostra-se abalado emocionalmente no gramado? Dane-se o psicólogo, o psiquiatra. Que se exploda a ajuda médica. Importa é saciar o desejo por sangue emitido nas redes sociais.
Pode parecer um artigo meio deprê, mas é vital dizer: Eu não sei nada. Você também. Estamos no futebol como na vida para aprender. Dia após dia.
Então qual a função do jornalista? É fiscalizar o poder, seja ele quem for. É ajudar o torcedor a entender o que pretende o treinador e por vezes passar suas impressões sobre aquilo que aconteceu na partida. Não como um diagnóstico pronto e acabado e sim como ponto de partida para um debate que provoque reflexão.
Devemos nos colocar no devido lugar. Nosso local não é lado de jogador, amizade com treinador ou em relacionamento próximo com quem ocupa cargo no futebol e na diretoria executiva. Devemos servir ao torcedor. Ajudá-lo a amar com razão e emoção na dose certa. Explicar. Analisar. E nunca fechar uma porta ao aprendizado.
Muitos dizem que não aceito opinião contrária. Não. O que não aceito é que bloqueiem o meu direito de me expressar. Quando você xinga, insulta e me agride nas redes sociais o que você adota é uma postura autoritária. O gesto expressa o desejo que me cale. E isso não vou aceitar.
O que aceito e recebo de braços é o bom debate, a critica feita com gentileza e empatia e a disposição para troca de ideias. Sou aprendiz. Por que um bom jornalista, no fundo, é um curioso, bom contador de histórias e alguém com disposição de aprender. É isso que tento todos os dias.
(Elias Aredes Junior)