Especial: no exercício da profissão, jornalista esportivo não pode e não deve ser torcedor!

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Durante o programa “Linha de Passe” da ESPN Brasil no último sábado, o jornalista Gian Oddi, ao comentar sobre um manifesto de torcidas organizadas do Palmeiras contra o técnico Abel Ferreira, disse algo que merece reflexão.

Sua frase foi certeira: “Jornalista não tem que dar chilique quando o time perde. Essa é a visão que tenho e que é antiga, talvez romântica, de um jornalismo que vai deixar de existir”, disparou.

Pode parecer antigo, demodê ou sem nexo, mas o companheiro de profissão acertou na veia. Disse aquilo que muitos não enfocam. Verdade nua e crua: jornalista, no exercício de sua profissão, não é torcedor.

Se o jornalismo esportivo passa por uma crise profunda de credibilidade não é por causa de debilidades técnicas ou por enfoques editoriais.

O equívoco começa quando muitos companheiros de profissão capitularam e atenderam ao pedido de torcedores tresloucados. Incorporaram o papel de fanáticos com microfones ou computadores na mão. Falam aquilo que agrada a plateia e esquecem pontos básicos da profissão:  criticidade, independência, espirito crítico, desconfiança permanente em relação ao poder.

Os pontos citados acima são os ingredientes que constroem a credibilidade do profissional e que de certa forma faz com que em médio e longo prazo o jornalista consiga até atrair anunciantes para seus espaços.

Os malefícios desta ênfase do “jornalista-torcedor” teve consequências nefastas no Cruzeiro.

Gabriela Moreira e Rodrigo Pacheco, profissionais que não residem em Belo Horizonte e não cobriam o Cruzeiro deixaram os profissionais locais em evidente saia justa quando as denúncias foram divulgadas.

Detalhe: não descarto algo semelhante acontecer em Campinas se um dia a fiscalização for para valer.

Pior: seremos pegos de surpresa. Motivo: falhamos na cobertura. Digo e olho no espelho. Queremos apenas o entretenimento e deixamos de lado as mazelas, os erros e até denuncias mais sérias. Tudo para não deixar o torcedor “chateado”.

O mesmo tipo de torcedor que brada contra a corrupção na vida civil mas passa o pano quando envolve o seu time do coração.

De preferência, o tema deve sumir do noticiário. Para isso, nada melhor do que valorizar o jornalista torcedor e pressionar e desvalorizar aquele que trilha o caminho da independência.

O torcedor não precisa de alguém para chorar junto com ele uma derrota acachapante ou alegrar-se com uma conquista memorável. Torcedor precisa de um jornalista que descreva o fato, analise, comente e quando for necessário denunciar as mazelas do esporte.

Jornalista esportivo pode comentar com indignação. Pode e deve ser assertivo nas derrotas e nos acontecimentos de bastidores. Mas não pode ser um fanático inconsequente que muda de visão e opinião apenas e tão somente para ir atrás de likes ou popularidade fácil.

Você pode argumentar que o torcedor brasileiro não entende.

Discordo.

O comportamento do torcedor brasileiro é apenas reflexo de um país que desvaloriza a cidadania e a educação. Você pode argumentar que nos outros países o comportamento é igual.

Pode ser.

Na Inglaterra, Itália, Estados Unidos, Espanha quem é sério é valorizado e de certa forma protegido pela sociedade, que entende o papel da imprensa, apesar da balburdia proporcionada pelas redes. E aqui? Esquece. Aqui, a vilania é impregnada em quem ser apenas e tão somente jornalista, jamais torcedor. Um dia muda.

(Elias Aredes Junior-Foto-Carlos Bassan-Fotos Públicas)