Ás vésperas do dia da Consciência Negra, no dia 20 de novembro, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva dá um soco no estômago de todos aqueles que desejam uma sociedade igualitária e livre de qualquer tipo de discriminação racial. O tribunal devolveu ao Brusque os três pontos na tabela da Série B do Campeonato Brasileiro. O clube catarinense teve o recurso julgado em videoconferência. O caso analisado foi sobre o ato de racismo por parte de um dirigente do time catarinense contra o jogador Celsinho, do Londrina. O confronto entre as duas equipes ocorreu no dia 28 de agosto. A maioria do plenário aceitou o recurso. Agora, a equipe tem 44 pontos. Difícil de engolir. Impossível de aceitar.
Todo ato deveria ter uma consequência. Se o dirigente do clube catarinense dirige um insulto racista a um jogador de futebol não é apenas a pessoa física que deveria arcar com as consequências. O clube também. Afinal ele representava a agremiação na hora do jogo, que é um evento oficial de responsabilidade da CBF.
Não foi esse o entendimento do tribunal. Punição? Perda de um mando de campo para ser cumprido no campeonato nacional, e o pagamento de multa de R$ 60 mil ao Brusque. Em relação ao presidente do Conselho Deliberativo, Júlio Antônio Petermann, identificado como autor da declaração racista, a punição é de suspensão por 360 dias e multa de R$ 30 mil. Pergunto: quem vai ressarcir Celsinho pela ferida cravada em sua alma? Pois é.
A decisão indiretamente incentiva que todos os clubes relativizem comportamentos discriminatórios. A partir de agora, se eu tenho nos meus quadros um dirigente que profere insultos racistas e se não há risco de perda de pontos de forma definitiva – foi criada uma jurisprudência para casos futuros- que incentivo terei cobrar um comportamento inclusivo e que combata a discriminação? Fica a reflexão.
Como mudar o quadro? De que forma virar o jogo? O passo inicial é admitir que o racismo está no futebol. Não custa relembrar: dos 40 times das Séries A e B, temos apenas um presidente negro, Sebastião Arcanjo, o Tiãozinho, na Ponte Preta.
Na divisão de elite do Brasileirão, dos 20 times, apenas dois negros sentados no banco de reservas: Jair Ventura no Juventude e Marcão no Fluminense. Se você considera este quadro normal, também vai aceitar como natural a reversão da punição ao Brusque. Seria de bom tom rever os seus conceitos.
Se a indignação tomou conta de você, temos dois caminhos à disposição: negros e negras não podem deixar de falar e denunciar. E de buscar proteção no conhecimento e na informação. Estude. Saiba de seus direitos. Proteste. Não fique calado. Nos 365 dias de qualquer ano e em qualquer época. Dia 20 de novembro é o marco, a data emblemática de uma luta que não pode parar. E nem vai. Apesar dos dissabores.
Para a sociedade em geral, a lição básica: é urgente ser antirracista.
Na teoria e na prática. Temos um longo caminho para percorrer antes de consolidação de uma sociedade inclusiva e igualitária. Enquanto isso, resta o brado de indignação quando é marcado um gol contra. No julgamento do STJD, a cidadania perdeu. De goleada.
(Elias Aredes Junior