Hoje não tem churrasqueira. Não teremos sorrisos na hora do almoço. A cerveja consumida de maneira descompromissada no final da tarde descerá pela garganta com amargura. Vestir a camisa Alvinegra pelas ruas de Campinas será um ato de resistência. E de orgulho. Por dentro, a vergonha será devastadora. Terá um poder de destruição imenso. Perder de 5 a 0 para o Corinthians e sem demonstrar resistência foi doído demais.
Foi o caldo corrosivo para destruir a autoestima, a capacidade de reação do torcedor. Rebaixamento? Sim, é uma possibilidade real. Pior do que isso, duro é nutrir a sensação de que não será possível cair de pé e sim de joelhos. Pratica autoengano o torcedor pontepretano que diz que não sente e vive tal quadro.
Algo precisa ser abordado. Como se sentem aqueles que provocaram tal humilhação? Não falo apenas do presidente Marco Antonio Eberlin, que já tem a sua culpa decretada pelo tribunal das redes sociais. Como é o responsável pela instituição, é natural que seja cobrado.
Como também é natural que Luis Fabiano produza um profundo sentimento de decepção na arquibancada. Sim, o clube passa por tremendas dificuldades financeiras e administrativas. Isso toma tempo (e dinheiro) dos responsáveis. Apesar disso, o questionamento precisa ser encaminhado: precisava ser assim? Não tinha outra maneira?
Reforço a reflexão: e as pessoas restantes e inseridas na estrutura da Ponte Preta? Não tem culpa por este furacão? Falo de integrantes da Diretoria Executiva, seus apoiadores e até do estafe do Departamento de Profissional.
A saber: Ivo Secchi, Nenê Santana, Ricardo Koyama, Marco Ribeiro, André Carelli, entre outros. Sem contar o presidente do Conselho Deliberativo, Tagino Alves dos Santos, detentor de um silêncio injustificável. Nada faz para mostrar que a sua instância importa-se com os destinos da instituição. Ah, não podemos esquecer: o ex-presidente Sebastião Arcanjo, se não é protagonista, é sócio minoritário desta tragédia que está próxima a se concretizar.
A pergunta é básica: vocês tem certeza de que estão no caminho certo? Dá para dizer que todas as decisões tomadas até agora na direção do futebol profissional foram corretas? Tem certeza de que não precisam de ajuda? Não precisam ouvir ninguém?
Não sei o que cada uma de pessoas responderia. Mas a consequência das suas atitudes eu vislumbro nas ruas.
Crianças choram.
Adultos ficam envergonhados.
Idosos tem o coração dilacerado.
E o torcedor pobre, aquele que tira comida da boca para pagar o seu ingresso, começa a pensar se vale a pena exercitar esta paixão tão avassaladora que é a Associação Atlética Ponte Preta.
A Ponte Preta não precisa de craques. Porque estes em algum momento falham. Não precisa de mecenas ou financiadores polpudos. Inúmeros clubes já comprovaram que com uma boa dose de criatividade é possível fazer e vencer.
A Ponte Preta necessita que seus atuais dirigentes e apoiadores, antes de tudo, tenham características que produzem qualquer pessoa vencedora: tenacidade, humildade, vontade de aprender, desprendimento, gentileza, capacidade de aglutinação e disponibilidade para ouvir o semelhante.
Engana-se quem considera que tais predicados estão ausentes apenas em Eberlin ou apenas em Luis Fabiano. Ninguém ganha ou perde sozinho. Ninguém. Existem responsáveis. Mas não há trabalho solitário no futebol. Tudo é chancelado pelas estruturas inferiores.
Pelo menos uma ou todas essas características não estão presentes no dia a dia dos corredores da Ponte Preta. Por que se este quadro fosse o ideal, certamente o resultado seria diferente na Neo Quimica Arena. Poderá até perder, mas seria com resistência. E existiria até o lamento, mas o pranto não prevaleceria em um domingo de sol.
(Elias Aredes Junior-Foto Divulgação)