O processo eleitoral está em vigor no Guarani. A Chapa Integração liderada por Palmeron Mendes Filho vai defender a gestão de Horley Senna contra o oposicionista Odair Paes Junior, da chapa Transparência Guarani. Independente dos programas de governo, algo chama a atenção negativamente: o número de sócios vinculados ao clube, no total 742 pessoas. Uma vergonha. Escárnio.
Pegue os outros 2185 sócios do programa de Sócio Torcedor e estará diante de um quadro, no mínimo esquisito: um clube que teve um acesso para a Série B do estadual, que não amarga um rebaixamento há três anos e mesmo assim não consegue atrair sócios. Ou não atrai na quantidade desejada.
Afinal, não estamos falando de um clube sediado em uma cidade de beira de estrada. Falamos do Guarani Futebol Clube, campeão em 1978, proprietário de um patrimônio invejável e detentor de uma galeria infinita de craques. Tudo isso em um município de 1,1 milhão habitantes. Pense. Reflita. É um absurdo.
Não, a questão de concorrência dos condomínios não cola no caso do Guarani. Primeiro porque o futebol é a razão de ser do clube e o passo inicial seria atrair gente por intermédio do programa de Sócio Torcedor. Não acontece. Pior: o bugrino existe, é apaixonado, mas ainda vive em clima de desconfiança. Se isso não for verdade, como explicar o sumiço daquelas 16749 pessoas que compareceram a final da terceirona diante do Boa Esporte? Porque metade daquela turma não se filia ao clube ou faz adesão ao programa de Sócio Torcedor?
A resposta pode ser dolorida mas é real. Muitos bugrinos antigos estão afastados porque consideram que o clube tem um grupo que se julga proprietário. Que estabelece regras de como fazer oposição, como discutir os destinos do clube ou qual a maneira adequada de conviver com os desatinos e imprevistos do futebol.
Não, a oposição não está livre das criticas. Muitos dos atuais integrantes estavam na situação e se submeteram a estas regras implícitas. Normas que afirmam que em determinadas ocasiões bugrinos “jogam contra”, “querem tumultuar o ambiente”, entre outras expressões que nada mais são que uma delimitação de espaço. Foi assim desde o primeiro dia. E muitos se calaram. Ou seja: “Ou você obedece a maneira que eu determinar ou está fora”. Dirigentes da situação não devem determinar como age a oposição e vice versa. Cada um deve ter a atuação política que desejar, sem censuras ou constrangimentos. Se a situação ganhar não há segurança de que a liberdade democrática estará presente no Guarani; inexiste garantia sobre a possibilidade da oposição vencer e instituir um clima de liberdade de expressão. Nenhum dos dois lados respondeu satisfatoriamente a estas perguntas.
O saldo é tenebroso pois hoje o destino de um clube centenário, com milhares de torcedores espalhados pela Região Metropolitana de Campinas vai ser definido por um colégio eleitoral semelhante a um condomínio.
O Guarani não precisa de dinheiro. Nem títulos ou de vitórias. A sua necessidade básica é que seus mandatários aceitem o pensamento diferente, seja ele qual for.
(análise feita por Elias Aredes Junior)