Na Macaca, uma dica para Vanderlei Pereira e Sérgio Carnielli: obrigado é bem diferente de amém

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Nos últimos anos, o conflito entre a diretoria da Ponte Preta e uma parte de sua torcida era acompanhado de um argumento: a de que o presidente de honra, Sérgio Carnielli merecia homenagens e deveria ficar imune ás criticas devido aos investimentos feitos e por ter tirado a agremiação do estado de insolvência. “Se a Macaca ainda existe é graças a Ele. Que ninguém ouse criticá-lo”. Era – e é – o mantra dito por alguns nas arquibancadas e por setores da sociedade campineira.

Homem bem sucedido, rico e poderoso, Carnielli degusta uma situação confortável em virtude de um conceito básico desprezado por alguns: obrigado é bem diferente de amém.

Vamos raciocinar juntos. É evidente que a torcida da Ponte Preta tem que agradecer tudo aquilo que fez Carnielli. Seus investimentos, contratações e viabilização de melhorias no estádio Moisés Lucarelli e no Centro de Treinamento fazem com que esteja inserido para sempre na história.

Só que tal quadro não gera imunidade ás críticas. Uma espécie de redoma foi formada não só em torno de parte polianística da torcida como também de 90% dos dirigentes que passaram no Estádio Moisés Lucarelli. Inclusive Márcio Della Volpe e Miguel Di Ciurcio, os atuais líderes oposicionistas. Na época como dirigentes não contestavam as ordens do empresário. Della Volpe peitou ao disputar para valer a Sul-Americana? É um caso contra centenas de episódios em que imperou o silêncio. Ninguém tem coragem de bradar em alto e bom que o presidente de honra erra, comete equívocos, toma decisões por vezes estapafúrdias e nutre conceitos equivocados de futebol. A ordem é dizer “amém” a tudo que é feito e dito pelo presidente de honra, benesse estendida ao presidente de fato e direito Vanderlei Pereira.

Exemplo prático: Vanderlei Pereira tem rejeição na torcida por sua recusa em falar e explicar suas medidas. Não quer dar entrevistas. Não quer se submeter ao jornalismo crítico e independente. Idêntica postura tem Carnielli. Quem tem coragem de chegar e falar que estão errados? Hoje eu cravo: ninguém.

Este beija mão involuntário é gerado por algo inerente a história humana: a junção de dinheiro, poder e prestigio. O futebol não foge a regra. Quando conectados estes três atributos, dificilmente um ser humano não se considera imbatível, inexpugnável, sem mácula e sedento não por amigos, mas por um séquito de aduladores cegos e fanáticos. Políticos famosos no Brasil e no mundo viveram tal expediente: Juan Domingo Péron, Getúlio Vargas, JFK, Alberto Fujimori, Lula, FHC… O poder lhes tirava do chão da realidade e quem emanava carinho e elogios no fundo, no fundo, só serviam de combustível para o aumento da legião de detratores e oposicionistas.

Como sair de tal armadilha? Em um time como a Ponte Preta não existe outra fórmula que não seja a de voltar às origens. Abandonar o camarote e ouvir e sentir as angústias do torcedor , preferencialmente os pobres. Pedir que os assessores e dirigentes saiam dos gabinetes com o ar condicionado e tratem de retornar ao “primeiro amor”, a vibração inocente e efusiva pelo gol marcado no Majestoso, com a camiseta suada e fixada pela faixa transversal.

É apresentar-se de modo rotineiro na sala de imprensa e dizer “desculpa” ou “eu errei” nas suas declarações. Mostrar-se antes de tudo, ser humano.

Reis habitam palácios. Desfrutam das benesses de um poder ilusório quanto ao tempo. Carnielli e Vanderlei Pereira deveriam trocar o bálsamo da ilusão e fazer um pedido ao poder divino: a capacidade de visão e de estadista para recolocar a torcida da Ponte Preta no seu devido lugar e buscar o sonho dourado do título. Ao final, os dirigentes abaixariam a cabeça e diriam a palavra “obrigado” pelo privilégio de administrarem o legado de uma nação apaixonada.

(análise de Elias Aredes Junior)