Um conselho da Ofélia para o presidente da Ponte Preta, Vanderlei Pereira: Só abra a boca quando tiver certeza!

2
1.388 views

Estadistas são aqueles capazes de entender os novos tempos. Adaptar-se as  conjunturas e desafios. Ter o discernimento de apresentar conceitos relevantes. Acrescentar conteúdo ao debate. O presidente da Ponte Preta, Vanderlei Pereira, tem uma característica interessante: é um dirigente quase mudo e monossilábico quando a tarefa é conversar com os torcedores pontepretanos e  veículos de comunicação de Campinas. Já na capital, o dirigente emite sorrisos, falação e um conceito equivocado atrás do outro.

Vou relembrar três episódios para comprovar sua incapacidade para detectar o poder destruidor de uma frase mal colocada. Ou a urgência em adotar como mantra de vida o bordão da Ofélia, personagem dos programas “Planeta dos Homens” e “Zorra Total” e eternizado pelas atrizes Sônia Mamede e Cláudia Rodrigues: “Eu só abro a boca quando tenho certeza!”. Que fique claro: adote o bordão e não as características da personagem.

Em entrevista a Fox Sports, o presidente Ponte Preta encheu o peito para celebrar a contratação de Julio Vitor, então com 15 anos, junto ao Rio Branco de Americana. Afirmou que seria um “novo Neymar”. Involuntariamente, a pressão produzida sobre o garoto foi absurda. Precisava? Não. Mais: tentar desmentir posteriormente a declaração só produziu estragos.

Estragos presentes após suas declarações à ESPN Brasil sobre a negociação com William Pottker. Passou dias e dias com Lucca a tiracolo e com convicção dos deuses de que o artilheiro do brasileirão de 2014 não sairia do Majestoso ou que não tinha relação com a chegada dos atletas de Parque São Jorge. Eis que na entrevista ele confirma o negócio, os valores e o empréstimo. Pense. Reflita: não ficou feio para o presidente pontepretano?

O pior ainda estava por vir. Uma reportagem no portal Terra contém uma declaração responsável por detonar um espiral de revolta no torcedor da Macaca: o desejo de Vanderlei Pereira em querer o retorno do Dérbi. Seria contraproducente este jornalista ser contra o retorno do clássico em virtude do nome do portal. Só que minha análise vai por outro ângulo: a exibição de desconexão política de Vanderlei Pereira em relação a sua situação  perante a torcida.

Perceba: políticos com taxas de popularidade abaixo da critica nunca se metem em declarações polêmicas ou dão munição para serem detonadas em médio e longo prazo. Seu foco é na realização de obras, feitos e projetos para servir como vitrine da administração e reversão das expectativas. As entrevistas são em cima destes temas. Polêmica? Evitar a todo custo.

Vanderlei Pereira toma o caminho contrário. Parece ter dificuldade em entender sua impopularidade na torcida da Ponte Preta. Que não se conforma com sua mudez em instantes emblemáticos do clube e a autorização para atitudes que comprovem a falta de ambição da atual diretoria. Um dirigente que obteve algo incrível: transformou um oitavo lugar no Brasileirão em um catástrofe de dimensões épicas. Por que? Fala demais quando é desnecessário e se recolhe quando a presença de um estadista é urgente.

Vanderlei Pereira, Sérgio Carnielli e toda a diretoria pontepretana deveriam entender que um dirigente de futebol é, antes de tudo, um vendedor de esperança. Alguém que nos piores instantes sabe detectar o sentimento de revolta nas arquibancadas e se comprometer com a mudança de paradigmas. Mário Celso Petraglia entrou para a história do Atlético Paranaense não porque foi campeão brasileiro de 2001 ou disputou final de Copa Libertadores em 2005, mas também pelo fato de que quando o Furacão perdeu para o Coritiba de goleada em pleno estádio Joaquim Américo – agora Arena Baixada- prometeu que o clube seria diferente e ultrapassaria o rival. Deu no que deu.

Atual prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil superou o legado do pai, Elias Kalil ao propagar dia e noite, noite e dia a sua obsessão por títulos para o Galo. Tomou uma goleada do Cruzeiro por 6 a 1 em 2011. Arregaçou as mangas e trabalhou. Faturou Libertadores e Copa do Brasil. Entrou para a história.

Vanderlei Pereira é reconhecidamente honesto, trabalhador e administrador nato. Mas não adianta compreender e ser uma fera nos números, planilhas e calculadoras e desconhecer a alma, o sofrimento e a angústia do torcedor da Macaca. Sem vender esperança e compreender as arquibancadas, a tendência é que Vanderlei Pereira se transformem apenas em registro nos livros de históricos, mas sem nada relevante para contar.

(análise feita por Elias Aredes Junior)