Caminho mais fácil para analisar o último jogo e derrota da Ponte Preta no Paulistão seria criticar o técnico João Brigatti. Suas frases de efeito provocativas, sua paixão de querer dar certo no final das contas serviram como combustível para a vitória do Novorizontino.
Esqueçam.
Da minha parte não estarei neste tribunal de inquisição. A questão é profunda e complexa. Isento totalmente o ex-goleiro.
É impossível culpar o atual técnico pontepretano se ele não tem a disposição nenhum meia armador para dividir o trabalho juntamente com Ravanelli. Ele coloca o garoto para jogar não só por necessidade, mas por não encontrar saída dentro da sua concepção de futebol. Brigatti não pode ser crucificado se hoje ele não tem na prática um reserva para o lateral-esquerdo Artur, jogador rápido e capaz de fazer o desafogo ao ataque. Jeferson é um garoto esforçado, determinado, mas é focado na marcação. Ou seja, não contempla as exigências do futebol moderno.
Seria temeridade culpar Brigatti pela ausência de um reserva para Clayson. Isso mesmo que você leu. Clayson erra, comete vacilos, é desligado da partida, mas é o único jogador na Alvinegra capaz de pegar a bola em velocidade e levar para o campo de ataque pelos lados do campo e escapar da marcação adversária.
Lucca é jogador técnico. William Pottker é jogador de força e sua velocidade é apenas útil por curto espaço no gramado. Não atendem aos requisitos. Ou seja, a Macaca deveria contar sim com um reserva que pudesse executar a tarefa de Clayson. Não tem. Paulo Silas, técnico do Novorizontino, sabia disso e armar sua equipe para bloquear as ações de Nino Paraíba, exemplar solitário no rumo ofensivo da defesa para o ataque. Cléo Silva e João Lucas transformaram a vida do lateral em um inferno. Se existisse uma outra alternativa de transição, o efeito seria bem menos danoso.
Onde Brigatti tem culpa? Com certeza na ausência de compactação do meio-campo, o que provoca a montagem da Macaca por vezes em um autêntico 4-2-4. No Paulistão, tal estratégia é suficiente para ultrapassar equipes limitadíssimas. No Brasileirão, não dá cometer tamanha atrocidade.
Mesmo assim, tal falha de Brigatti, iniciada por Felipe Moreira, é uma centelha perto da montanha de incompetência que gerou todo o quadro descrito acima.
Então, quem são os responsáveis?
O gerente de futebol, Gustavo Bueno, claudicante e com falta de planejamento na montagem do time neste ano. Tarefa heroica de Gustavo encontrar explicação quando se verifica o limitado Novorizontino com Fernando Gabriel ou Red Bull, às voltas com a luta do rebaixamento com Elvis. Por que essas equipes com orçamento menor do que a Ponte Preta contam com armadores e no Majestoso tudo está nas costas de Ravanelli?
Coloque uma parte da fatura também sobre Hélio Kazuo, diretor de futebol que transparece interferir apenas em instantes de crise; aponte o dedo ainda para Vanderlei Pereira, o presidente que permitiu a Ponte Preta virar um laboratório em uma temporada com alto grau de dificuldade. Não exclua Sérgio Carnielli, que por sua experiência e relação com o futebol poderia impedir a adoção desta aventura que coloca a Ponte Preta no rumo da indefinição.
Claro, os dirigentes vão alegar a boa campanha no Campanha Paulista como trunfo. Não vale. No ano passado, o América Mineiro foi campeão mineiro e ficou no Z-4 do Brasileirão; o Internacional sagrou-se campeão gaúcho e agora pensa na Série B do Brasileirão; o Santa Cruz foi campeão da Copa do Nordeste e do Pernambucano e foi presa fácil na divisão de elite do ano passado. Então um pedido: arranjem outro argumento. Campeonato estadual não é parâmetro para nada, muito menos para avalizar planejamento.
Culpar única e exclusivamente Brigatti é, antes de tudo, um ato de covardia. Que ele continue dedicando-se no gramado. É honesto, decente e ama a Ponte Preta. Comete deslizes, mas como qualquer ser humano de bem sabe reciclar-se.
Que os autores das medidas equivocadas no gabinete tomem consciência e coloquem a Ponte Preta no rumo certo. Antes que seja tarde.
(análise feita por Elias Aredes Junior)