A frustrações da bola forjaram a nova Ponte Preta de 2017

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Domingão, começo do mês de abril e você, torcedor pontepretano, sorri de orelha a orelha. Comemora a vitória sobre o Santos. O gol de William Pottker deixou a Macaca a um passo das semifinais do Campeonato Paulista. Poderia ser melhor se a arbitragem não cometesse erros de avaliação. Insuficiente para tirar o brilho da tarde de gala no Majestoso. Já parou para pensar que antes de seu sorriso no rosto você precisou chorar? Que a lágrima de alegria do presente antecedeu a uma tristeza profunda no passado? As frustrações forjaram a nova Ponte Preta.

O futebol brasileiro tem uma péssima mania e registrado em qualquer clube: a vitória dopa e esconde falhas. Por dias e dias, este site era quase um cavaleiro solitário no apontamento das falhas crônicas do time treinado por Felipe Moreira. Futebol pobre, sem imaginação, focado e fadado ao padecimento ao encarar adversários mais preparados. Cansamos de ler e ouvir uma frase de torcedores pontepretanos: “O que importa é vencer. Pouco interessa a produção”.

As pressões que aconteceram em boa hora. Acredite…

Tal conceito pode passar batido para quem considera o futebol apenas como entretenimento e se recusa a enxergar os aspectos táticos e técnicos. Este jornalista não se enquadra no modelo. Parecia cercado, encurralado. Eis que aparece o confronto contra o Cuiabá pela Copa do Brasil. Os fatos atropelaram os ufanistas e a eliminação nos pênaltis produziu pressão insuportável. No dia seguinte, a demissão de Felipe Moreira.

Com a vitória na rodada seguinte sobre o Ituano, muitos passaram a acreditar em João Brigatti como solução. Boa pessoa? Não há dúvida! Pontepretano de quatro costados? Ninguém contesta. Só que este sentimentalismo por vezes até piegas gerou satisfação artificial.

Ou seja, de aquilo era suficiente para suplantar uma temporada difícil, equilibrada, com os gigantes preparados e os times médios com bons elencos e na busca de entrosamento e sistema tático confiável. Pouco importava. A onda de delírio e busca por um redentor contaminou uma parte das arquibancadas e até da imprensa. Hipnose coletiva, difícil de segurar.

O destino colaborou por vias tortas. Surge o Novorizontino e constrói vitória em pleno Moisés Lucarelli. Não foi uma vitória qualquer. Silas, recém-chegado, anulou as laterais pontepretanas, arrebentou com o sistema de criação e de quebra concedeu liberdade de criação para Fernando Gabriel. Derrota por 2 a 1 e o sinal amarelo dos dirigentes acendeu em definitivo. Nada contra a pessoa e o profissional João Brigatti, mas a diretoria foi contaminada com a dúvida fatal: como seria diante de Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo? E se ocorrer um novo revés na Sul-Americana? Ato contínuo, os contatos foram intensificados para contar com Gilson Kleina. Negociação finalizada e o treinador recomeça a trajetória no Majestoso.

Um técnico para grandes desafios

É o novo Rinus Michels? É uma cópia de Cilinho? Longe, muito longe disso. Mas Kleina tem domínio do vestiário, fala a linguagem do boleiro e comanda treinamento sempre embasado nas virtudes e defeitos táticos e técnicos do seu adversário. Treina e ensaia jogadas para aproveitar-se destes vacilos. Concordo com aqueles que apontam sua filosofia como defensiva. Mas tem começo, meio e fim. E sabe o que quer.

Contra o Palmeiras, vacilou no primeiro tempo, mas na etapa final explorou o corredor aberto por Zé Roberto. Foi ali que surgiu o pênalti sofrido e convertido por William Pottker. Neste sábado, Kleina tinha conhecimento da interferência do volante Renato na construção criativa do Santos. Escalou três volantes, padeceu no início, mas bloqueou o Santos. Ganhou e poderia ter ampliado.

A Ponte Preta pode ser eliminada? Pode jogar mal no dia 10 no Pacaembu e quarta-feira pela Sul-Americana? Nada pode ser descartado. Porém, a partir de agora, as discussões serão em novas bases. Vamos apontar o que deixou de ser feito e não aquilo que não se conhece. A cobrança será em relação ao caminho para se explorar todo o potencial do elenco e não se há confiança da capacidade ou não do profissional em executar a missão.

Independente do que acontecer, que fique a lição: o treinador e seu trabalho devem ser analisados e esmiuçados mesmo na vitória. O trabalho exitoso no futebol não é aquele que gera êxtase no presente, mas sim o que traz perspectiva de satisfação no futuro. Que Gilson Kleina seja capaz de corresponder a expectativa gerada no seu trabalho. O desafio está apenas no começo.

(análise feita por Elias Aredes Junior -foto de Fábio Leoni-Pontepress)