Afirmam os especialistas que tal característica é presente em todos os clubes brasileiros. No Guarani, é titular. De modo sorrateiro e até constrangedor, o exercício da crítica é constantemente podado. Faça uma revisão na memória e verifique as reações.
Quando o Alviverde está ameaçado pelo rebaixamento seja em campeonato paulista ou brasileiro, o torcedor, críticos e dirigentes vinham com o discurso: “Pare de criticar, o que o Guarani precisa é de ajuda”. Não importava se os jogadores eram cabeças de bagre, os técnicos ineficientes, o baixo aproveitamento na pontuação. Fatos negativos expostos a luz do dia e o coro era uníssono: “Esquece, pare de cornetar. Veja o lado positivo”. Incrível, mas ouvi esta frase por diversas vezes, seja como comentarista ou repórter.
Eis que a fase vira. O time embala uma sequência de vitórias. Luta por acesso ou chegada em final de campeonato. Jogadores de credibilidade e treinadores competentes também erram. Exemplo típico: o plantel que obteve o acesso á Série B em 2008 era limitado. Limitadissimo. Ou seja, cravou o objetivo e teve a irregularidade como aliada. Nada disso convencia esta parcela da torcida bugrina e dos dirigentes e críticos. A frase folclórica estava na ponta da língua: “Tem que parar de ser corneta! O time está prestes a subir. Não invente defeito”.
O fato é que, aos trancos e barrancos, um cenário tenebroso foi formado em parte da comunidade bugrina: a negação da realidade. Não há maturidade para encarar as críticas. Os dirigentes de plantão desejam no fundo é um adesismo inconsequente, sem reflexão e análise dos erros. Não invento a roda. Cansei de cobrar ao vivo, o atual presidente, Horley Senna sobre essa obsessão de depreciar a crítica. Ato contínuo, a resposta padrão era que “vocês (jornalistas) são formadores de opinião, tem que tomar cuidado com aquilo que dizem etc etc etc”.
Vamos realizar um exercício de reflexão. Sincero. Pergunta básica: que evolução o Guarani deve celebrar nos últimos 20 anos e que merece elogio rasgado? Os seus nove rebaixamentos? A perda de excelência em infraestrutura para clubes que antigamente estavam atrás como o Atlético Paranaense? O sucateamento das categorias de base? O péssimo aproveitamento de ex-jogadores responsáveis por glórias e glórias e que muitas vezes saem pelas portas dos fundos? A ausência há seis anos da divisão de elite do futebol brasileiro? A perda de protagonismo no futebol paulista? A ausência de formação de dirigentes de futebol? Sim são perguntas duras de ler e ouvir, mas é pela ausência de confrontar tais tópicos e por vezes negar a realidade e caçar inimigos externos inexistentes que o clube não avança, não progride, não se transforma em vanguarda. Esqueçam a desculpa das dívidas. Não existe clube brasileiro que não tenha uma dívida para contar. E ninguém deixa de melhorar.
O Guarani é uma instituição centenária, e infelizmente é dependente de promessas e vitórias esparsas para serem utilizados como morfina diante da dor dilacerante da perda de protagonismo do futebol brasileiro. É fato. Não dá para esconder.
Eu sei que futebol é paixão. Ninguém precisa alertar ao colunista de plantão que o torcedor é passional e irracional. Entendo. Admiro a tenacidade do torcedor bugrino, que não arreda pé de sua paixão. Não joga a toalha e tem fé no retorno dos dias de ouro.
Só que alienação não é trunfo para quem sofre. É a realidade, por mais doída que seja o caminho para a redenção. Sejamos francos: caso o Guarani obtenha o acesso, o mérito será do técnico Vadão, e do elenco. Como também o crédito do acesso do ano passado deve ser colocado na palma da mão da boleirada, de Marcelo Chamusca e do gerente de futebol, Rodrigo Pastana. E os outros acessos? E as outras conquistas? Idêntico quadro. Nem Leonel Martins de Oliveira, Marcelo Mingone ou Lourencetti foram protagonistas. Ninguém. Assim como não é Horley Senna. Ah, mas ele pagou débitos trabalhistas, colocou tudo em ordem, você diria. Ok. Que tal olharmos por outro ângulo? O padrão de excelência ficou tão rebaixado no Guarani que alguém com nota 5 é tratado como aluno genial.
No final das contas, passamos meses e meses discutindo jogadores, comissão técnica e o Guarani ignorou a aquisição de um jogador que faria diferença. Esse sim levaria a equipe na estrada da evolução. Seu nome: a verdade.
(análise feita por Elias Aredes Junior)