Ao assistir na sexta-feira a transmissão de Palmeiras x Novorizontino pelo sistema de pay per view um comentário do jornalista Maurício Noriega chamou minha atenção. Após o terceiro gol anotado por Dudu e a confirmação da classificação do alviverde de Palestra Itália, sua análise sobre a participação dos gigantes no Paulistão foi cortante: “Os grandes tem a obrigação de se classificarem ás semifinais. Pelo investimento e tamanho de torcida. Se não conseguirem a classificação, é vexame”, disse. Passei a refletir sobre tal conceito emitido e que não é um pensamento isolado de Noriega. É toda a imprensa residente nas principais capitais do país. E que é dotado de um equívoco do tamanho do estado de São Paulo.
Vamos pegar o jogo entre Santos e Ponte Preta, marcado para segunda-feira no Pacaembu. O time santista tem maior investimento, jogadores mais badalados e um calendário mais robusto. Inclusive com a Libertadores. Fato. Agora, como desprezar avanços registrados pela Alvinegra campineira nos últimos anos? Como posso estipular a incoerência de considerar um vexame a eliminação santista se a Ponte Preta foi a oitava colocada no último campeonato brasileiro? Como é vexame perder para um adversário cuja cota de participação só é inferior aos gigantes da capital e ao próprio santos?
De que maneira sacramentar que a Ponte Preta não tem nenhum valor na geografia do futebol diante da constatação de alguns valores de seu elenco? Pelo que eu saiba, William Pottker foi cobiçado por diversos clubes e assinou com o Internacional por uma bolada; Lucca, emprestado pelo Corinthians, teve papel fundamental na conquista do título nacional de 2015; Sem contar Clayson, na mira do próprio Corinthians e anteriormente ambicionado pelo Santos.
O comentário proferido no jogo contra o Palmeiras embute uma constatação dolorida, presente no Brasil em todos os setores de atividade da sociedade: a desvalorização do interior.
Profissionais de comunicação trabalham com a perspectiva de que o futebol só existe nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre. Nem o Bahia, detentor de uma torcida fanática na região nordeste e o Atlético Paranaense, detentor de estrutura fantástica e orçamento robusto são levados em consideração. Ponte Preta, Chapecoense, Vitória, Atlético-GO são desprezados sumariamente.
A ordem é colocar muito dinheiro e poder na mão de poucos. Um conceito diferente daquilo que é pregado nos Estados Unidos, em que as ligas mais famosas, como a NBA, NFL ou MBL valorizam o campeonato e não o clube ou franquia. Ou seja, a distribuição de dinheiro é igualitária. Todos tem oportunidade de serem protagonistas.
Torcedor pontepretano, não seja iluda: o jogo de segunda-feira contra o Santos não será apenas um confronto contra os 11 jogadores escalados por Dorival Junior. Será uma batalha contra o sistema excludente do futebol brasileiro.
(análise feita por Elias Aredes Junior)