A torcida do Guarani conta as horas para o início de negociações com o zagueiro Domingos. Um reforço e tanto para uma equipe ávida por disputar o acesso ou assegurar a manutenção na Série B do Brasileirão. Um ponto chama atenção neste processo: a dependência em relação ao técnico Oswaldo Alvarez, não só para treinar a equipe, mas também para articular contratações e reforços.
Quanto ao técnico, nada a contestar. Na minha visão, ao lado de Carlos Alberto Silva e de José Duarte, Vadão está na galeria dos grandes da história. Conseguiu um acesso, um vice-campeonato paulista, revelou diversos jogadores e teve boa relação com dirigentes e torcedores. De mácula, apenas o fato de ter conduzido o time em 27 dos 38 jogos que culminaram com o rebaixamento em 2012. O saldo é muito positivo.
Esta versatilidade para indicar jogadores é solução – já apontado por este Só Derbi- mas também é problema. Desde a saída de Beto Zini, em 1999, o fato é que o Guarani nunca conseguiu formar dirigentes de futebol na acepção da palavra. Ou seja, gente que conheça o vestiário, as mumunhas, as traquinagens de bastidores e as armadilhas do mundo da bola. Pessoas com olho clinico para indicar reforços,m antecipar-se as preferências do mercado e com isso atuar em sintonia fina com o executivo de futebol.
Muitos passaram no cargo. Perfis variados. Desde o bonachão Cláudio Corrente, passou pelo pragmático Rogério Giardini ou o experiente João Secco, na época homem de confiança do então presidente Leonel Martins de Oliveira. Nada parecido com o conhecimento de Zini ou a liderança de Michel Abib, diretor de futebol em 1978. Tudo ficou nas mãos do treinador de plantão ou um executivo de futebol com alma e perspicácia de boleiro.
Resultado: o Guarani reza todos os anos para que apareça um treinador ou gerente de futebol com conhecimento de causa para tocar o barco e fazer muito com pouco. Caso contrário, nada acontece. No ano passado, o trabalho de Marcelo Chamusca não teria o mesmo resultado sem o respaldo de Rodrigo Pastana e Marcus Vinícius Beck Lima. Não tenha ilusões: Nei Pandolfo teria imensas dificuldades caso Vadão não estivesse presente no cotidiano.
Fica a pergunta: até quando vai esta ausência de formação de dirigentes? Vadão ficará eternamente como o guru do Brinco? Uma parte da pergunta começa a ser respondida com a nomeação de Horley Senna como responsável pelas categorias de base. Um começo para entrar de vez no mundo da bola. Quanto a qualidade do trabalho de Senna só o tempo vai dizer. Porque até hoje, bem ou mal, foi um executivo que pegou carona no êxito dos demais. Algo é fato: parece que não querem dar mais a chave do departamento de futebol ao treinador de plantão.
(análise feita por Elias Aredes Junior)