A Ponte Preta não é de uma, 10 ou 100 pessoas. A Macaca é de todos

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Oitavo lugar no Campeonato Brasileiro. Maior verba da história do departamento de futebol. Projeção em várias mídias e jogadores de renome. Centro de Treinamento decente e com estrutura melhorada graças a Copa do Mundo de 2014. Tantas vantagens enumeradas e o torcedor da Ponte Preta continua cético, desgostoso, triste. O motivo para muitos é a falta de um título relevante. Ao deparar-me em reflexão na semana passada não fechei o diagnóstico por completo. Afinal, a espera vem há muito tempo e apesar de viver no passado tempos sombrios o torcedor pontepretano era alegre, vibrante, participativo. O que aconteceu? Explico tudo em uma expressão: sentimento de posse.

Convenhamos: o torcedor da Ponte Preta não é comum. Ele tem diferenças em relação aos concorrentes. Seu estádio não foi construído por um mecenas e sim por torcedores que faziam campanha para aquisição de cimentos, tijolos, entre outros artefatos. Anos depois, a Ponte Preta amargou a década de 1960 na segundona paulista. O torcedor nunca lhe abandonou. Pelo contrário. Montava caravanas e fazia mundos e fundos para acompanhar a Macacaquinha querida de muitos.

Em instantes emblemáticos, o pontepretano nunca deixou seu time na mão. Não, não vou citar o exemplo da Sul-Americana. Que também é válido. Prefiro recordar a mobilização para fazer o time escapar do rebaixamento no Brasileirão em 2003 e cujo jogo decisivo contra o Fortaleza teve a presença de 18.279 pagantes. E a celebração dos três pontos teve clima de final de Copa do Mundo diante da constatação de um elenco com vários meses de salário atrasado.

Por que tais fatos estão relacionados? Resposta: o pontepretano se sentia dono do clube. Proprietário e participante. Nos mínimos detalhes: no bumbo que tocava na arquibancada, na recepção do time na chegada do estádio, na festa durante a entrada dos jogadores…Posse. Sentimento de integração.

Eis que nos últimos três anos, um novo fenômeno surgiu. Duas “Ponte Pretas” surgiram. Não convivem ou dialogam. São separadas. Uma é a da torcida, ávida por titulo, por querer participar das decisões, de querer sentir novamente a sensação de que o suor da arquibancada do pobre e do remediado tem o mesmo peso do engravatado do camarote. Esta Ponte Preta, mais do que título, quer antes de tudo ver o time lutar, guerrear por espaço e ver o seu esforço valorizado. Comemorar o oitavo lugar no Brasileirão sim, mas lamentar que não deu para ir além ou fazer história. Esta Ponte Preta não tem dono. Tem milhares de almas em busca do bem comum.

E a outra Ponte Preta? Esta é aquela que gera revolta e inconformismo. De propriedade de alguns, encastelada nos gabinetes e alheio ao sentimento do torcedor. Claro, não é coerente tomar decisões baseadas no voluntarismo e na irracionalidade. Só que é vital saber o pulso para quem você trabalha.

A Ponte Preta “chique” e “elegante” quer saber de números contabéis, resultados de planilhas e produtividade fria e artificial. Não importa se a arquibancada estiver vazia ou se o número de sócios torcedores estiver aquém do desejado; o interesse é o superávit no caixa do banco.

Esta Ponte Preta “hight tech” acha que ombrear-se aos grandes da capital e do futebol brasileiro não é abrir espaço aos negros, pobres e minorias. É, antes de tudo, gourmetizar um sentimento popular, da massa, dos bairros pobres e periféricos de Campinas. Que torce e adora a “velha” Ponte Preta, com lema de bola na rede e festa no povão; não eventos com nomes pomposos e de língua estrangeiras para transmitir a sensação de algo que não é. Esta Ponte Preta nova, fina e distante precisa morrer para prevalecer a verdadeira Macaca.

E qual a verdadeira Ponte Preta? Chegamos no pulo do gato. O erro principal desta diretoria, responsável por forjar esta Ponte Preta na mão de poucos é o desprezo a um conceito básico: a Ponte Preta não é de um, de dez ou de 100. A Ponte Preta não é do rico, do milionário ou do burguês de carteirinha. Tampouco do empresário ou do engravatado. A Ponte Preta é de todos.

(análise feita por Elias Aredes Junior)