Abdalla, Carnielli e a incapacidade de entender o papel da imprensa. E a insistência nos gestos dúbios!

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Não há fato pior do que pensarmos que somos acima do bem e do mal. Não devemos satisfação a ninguém. No futebol não é diferente. Dirigentes de futebol, portadores de administradores da razão, muitas vezes tratam repórteres, torcedores, jogadores e treinadores como meros joguetes da arena do poder. A relação pode ser profícua se existir ponderação, humildade, discernimento e consciência da função que exerce.

Nestes anos de cobertura da Ponte Preta, presenciei acertos e erros de dirigentes estatutários ou remunerados. Mas perceba que aqueles com maior tempo de permanência foram aqueles que trataram os veículos de comunicação e torcedores com educação. Ocimar Bolicenho nunca fugiu da raia sobre qualquer assunto, desde a contratação de um lateral limitado como Gerônimo ou a péssima campanha na Série A de 2013. Márcio Della Volpe era outro disponível e atencioso. Não mandava recado. Falava, explicava, expunha o quadro. Sem medo. Olho no olho. Criticado pela torcida, Gustavo Bueno nunca fugiu da raia. Pelo contrário.

Infelizmente tais lições de etiqueta não foram aprendidas pelo atual presidente José Armando Abdalla Junior e por Sérgio Carnielli, presidente de honra por deferência, mas na prática conselheiro nato.

Ambos ficaram insatisfeitos com a análise intitulada “Carnielli de um lado; Abdalla de outro. O conflito será inevitável na Ponte Preta. Uma pena!”. Afirmam que não há racha político. Que ambos privam de amizade. Que este colunista quer colocar gasolina na fogueira. E tudo isso por intermédio do assessor de imprensa, que por ser  profissional capacitado não deveria passar por tal constrangimento.

A resposta só demonstra que os dois deveriam melhorar antes de tudo a capacidade de comunicação com seus subordinados e aliados. Ora, do que adianta alardear amizade se toda e qualquer pessoa consciente dos bastidores pontepretanos sabe da aproximação de Abdalla com grupos oposicionistas? E gesto no sentido de buscar apoio político. E inclusive com a cogitação de oposicionistas para ocuparem cargos estratégicos na estrutura administrativa da Ponte Preta. Mais: em diversos temas este colunista já cansou de enviar mensagens, telefonemas para averiguar uma resposta do mandatário. Nada. Pois é.

Quanto a Carnielli, sua reação não me espanta. Empresário de sucesso, responsável pelo ressurgimento da Macaca no final da década de 1990, comete um ato falho: não suporta críticas ou não atura profissionais que lhe façam perguntas incomodas, que lhe coloquem contra a parede. Ou que façam constatações óbvias. Sua reação por vezes injustas criou na imprensa local e entre os conselheiros, temor e medo em relação ao seu nome. Deveria preferir ser amado e admirado.

Quem ousou fazer voo solo recebeu retaliação do presidente de honra. Fato. E aquilo que eu escrevo todos repetem no Majestoso e até nas reuniões do Conselho Deliberativo: Carnielli não permite voo solo. Não deixa que qualquer integrante de diretoria executiva tenha ideias próprias.

O artigo, ao dizer que Abdalla pode pagar o preço por sua deslealdade política é uma tese defendida por um integrante influente do grupo político de Carnielli. Antes de espinafrar o articulista, Carnielli deveria olhar ao seu redor e afinar o discurso com tal interlocutor. E entender que se, a Ponte Preta nos últimos anos atravessa as notas, é porque a orquestra não consegue ler a partitura. Um dos motivos é que o maestro destronado não aceita entregar a batuta. O atual maestro titular não sabe realmente com qual orquestra quer tocar. Assim fica difícil. E culpar quem constata tal fato é, no minimo, injusto.

(artigo de autoria de Elias Aredes Junior)