Análise: Eliandro, Bruno Nazário e Uéderson: os alicerces do ressurgimento do Guarani na Série A-2

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Pessoas talentosas e competentes dificilmente fazem autopromoção. O trabalho fala por sí só. Osvaldo Alvarez, técnico do Guarani, encaixa-se no modelo. Em três jogos, três vitórias, o ressurgimento da esperança de classificação e a retomada da relação positiva entre arquibancada e gramado.

Como adepto da humildade e da estratégia de pés no chão, o treinador afirma em alto e bom som que deu confiança aos jogadores. Com todo respeito ao treinador: não caia nessa. Mudanças táticas foram efetuadas e hoje o Alviverde tem o seu alicerce fundamentado em três jogadores: os meias Uederson e Bruno Nazário e o atacante Eliandro.

O primeiro no início caiu em desgraça junto a torcida. Por culpa dos antecessores que não sabiam como explorar o seu potencial de força e recomposição. Vadão apareceu e uniu o útil ao agradável. Sabia das fraquezas do seu lado esquerdo, seja com o zagueiro Diego Jussani ou os laterais Denis Neves e Gilton. Uederson transformou-se em “anjo da guarda” e com funções específicas. Quando o Guarani é atacado, ele transforma-se em um terceiro volante e dá o primeiro combate ou auxilia o lateral esquerdo na marcação.

A consequência imediata é que a bola passa a chegar mascada, picotada para Jussani, que não precisa ficar mano a mano com o atacante adversário, mesmo se um velocista estiver em evidência. A solidariedade de Uederson compensa a falta de pegada e de tempo de bola em certas jogadas. O destino trouxe de bandeja um presente: tanto Jussani como o lateral de ofício ganharam confiança tanto na defesa como para atacar. Sabem que do guarda-chuva defensivo arquitetado.

Na armação, o “novo” Guarani tem em Bruno Nazário o seu novo camisa 10 na prática. Independente de divisão ou desafio colocado, o futebol atual dificilmente comporta um armador de jogo cadenciado. Precisa ser veloz, solidário, esperto no fechamento dos espaços e não pode hesitar no momento de executar o passe certo. Ao flutuar como atacante ou meia, Nazário não aproveitava seu potencial. Sem enfeitar, o técnico bugrino colocou Nazário na meia direita, pronto na condução do contra-ataque e do elemento surpresa, ora com arremates de média e longa distância ou na adoção de arrancadas em curto espaço do campo para explorar possíveis fragilidades defensivas do oponente. Efeito feroz: o Guarani tornou-se letal, imprevisível e com alternativas.

Um “coelho na cartola” é Eliandro. Ele é trombador? Sim! Tem limitações técnicas? Podemos até concordar. É bom ponderar antes de conclusões precipitadas que falamos de um campeonato como a Série A-2, em que a força física prevalece. Neste contexto, o camisa 9 do Alviverde pode e deve sair da área para lutar pela posse de bola, em que leva vantagem pelo corpo e força físico. Aos trancos e barrancos, sua arrancada e potência no chute tem poder suficiente para incomodar os zagueiros. Sem contar seu bom aproveitamento dentro da área. Sob o comando de Vadão, já marcou três gols e a tendência é que não ocorra seca.

O artigo caminha para seu desfecho e você pergunta: ué, como fica Fumagalli? Virou coadjuvante, uma peça descartável? Nada disso. Para explicar o que desejo transmitir vou recorrer ao cinema. Em 1987, o filme “Os Intocáveis” proporcionou a Sean Connery o Oscar de melhor ator coadjuvante. Ficou poucos minutos na tela. Mas sua presença na tela foi tão marcante que poucos lembraram de que Kevin Costner era o protagonista e tinha Robert De Niro de lambuja.

Este é o X da questão. Ao colocá-lo como segundo atacante, como pouca obrigação de retomar a bola e de frente para o gol, Vadão quer utilizar Fumagalli como o trunfo decisivo, o zap do truco. Ou seja, se em determinada partida, o cerco estiver avassalador sobre Eliandro ou Bruno Nazário, o camisa 10 bugrino surgirá como a “arma secreta”, a válvula de escape para decidir.

Pode dar tudo errado? A decepção de permanência na Série A-2 pode ocorrer? A resposta é sim para todas as perguntas. Mas é inegável: Vadão arrumou a sala e a cozinha de uma casa que ainda encontra-se desarrumada. O visual, no entanto, já é bem melhor.

(análise feita por Elias Aredes Junior- Foto Guarani Press)