Equipes de futebol estão sujeitas a fases ruins. O craque contundido, um elenco mal formulado, dirigentes inadequados, pressão incessante de parte da torcida e cobrança por parte da imprensa. É do roteiro. Na Ponte Preta, os ingredientes estão presentes. Duro é constatar a perda de um combustível inerente a qualquer torcedor: a esperança.
Por pior que seja a má fase, sempre há a visualização de uma saída, de uma válvula de escape. Ou de um atalho para dias melhores. O torcedor suporta o sofrimento porque sabe que um dia tudo irá mudar e as vitórias voltarão a acontecer.
Por que o torcedor pontepretano perdeu a esperança? O que aconteceu até aqui para que o rebaixamento entrasse na pauta de discussão nos botecos e nas redes sociais? Antes de qualquer análise, é preciso entender que a derrota antes de qualquer coisa ocorre também por um estado de espírito derrotista. E que pode ser justificado de diversas maneiras. A saída da má fase, entretanto, acontece com um discurso positivo.
Dois episódios históricos da Ponte Preta demonstram isso. Em 2003, a Macaca passava por um instante financeiro dramático. O atraso nos salários produziu uma debandada de jogadores e o rebaixamento parecia líquido e certo. Em nenhum momento o técnico Abel Braga jogou a toalha. Nas entrevistas coletivas, enaltecia os atletas que permaneciam e conclamava a presença do torcedor para salvar a Alvinegra. Não demorou e a resposta ocorreu na última rodada, quando mais de 19 mil torcedores encheram o Majestoso e foram fundamentais para o triunfo sobre o Fortaleza por 2 a 0. O discurso e a atitude em busca fizeram a diferença.
Dez anos depois, foi a vez de o técnico Jorginho encarnar o papel de cavaleiro da esperança. O time estava rebaixado no Campeonato Brasileiro. Isto não impediu o treinador de usar os mesmos jogadores para buscar um algo a mais. Pense: será que o clima otimista detonado por Jorginho a Ponte Preta teria vencido o Veléz Sarfield ou passado pelo São Paulo para fazer a final contra o Lanús? Não, nada daquilo aconteceria.
E hoje? O baixo astral impera. Que o time da Macaca tem limitações todos sabemos. Agora, a função do treinador, mais do que treinar e dar padrão de jogo é a de criar um clima de que a melhoria vai acontecer cedo ou tarde. Que a Macaca pode e deve render mais com seus jogadores.
O que vemos da parte hoje? Seja da parte de Eduardo Baptista e dos dirigentes é um estado de conformismo. Que é preciso aceitar o atual estado de coisas e que tudo vai melhorar de maneira natural, sem forçar nada. Pior: por vezes sem admitir que o time jogou mal. Porque o primeiro passo para melhorar é admitir de que algo não vai bem. Pois é. A letargia não pode derrotar um clube marcado pela superação e valentia.
(análise feita por Elias Aredes Junior)