Análise: Quem tem medo da verdade na Ponte Preta?

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Na década de 1970, a Rede Record de Televisão fez sucesso  nas noites de domingo com o programa “Quem tem medo da verdade?”. Apresentado por Carlos Manga, uma personalidade era colocada na berlinda e  submetida a saias justas. A goleada sofrida pela Ponte Preta contra o São Paulo por 5 a 2 faz com que o conceito do programa seja colocado em prática.  Algumas perguntas devem ser colocadas. Não com o objetivo de ferir ou machucar alguém, mas para provocar uma reflexão, uma tomada de posição por parte da diretoria pontepretana. Da torcida também. Aviso de cara: são assuntos espinhosos, duros, arenosos e que ferem suscetibilidades. Vamos ao paredão.

1-Por que Fábio Ferreira é escalado? Não é implicância. São fatos. Ele erra um jogo após o outro. É violento em várias jogadas. Tem lentidão, falta de timing na marcação e atrapalhado quando lida com atacantes de velocidade. Como justificar a escalação quando você tem no banco de reservas beques como Marlon e Yago, de notória superioridade técnica? Kadu é outro sem confiança. Se uma resposta convincente não for dada em relação a formação da zaga,  revolução será detonada pela torcida. Não duvide.

2- Onde está o toque de bola no meio-campo? Jogar na retranca, no contra-ataque não é desculpa para deixar um conceito básico de qualquer time de futebol: meio-campo produtivo. Quando digo tal conceito faço referência a toque de bola, capacidade de projeção no campo ofensivo, inversões de jogo, chegada do segundo volante sistematicamente ao ataque e compactação e aproximação quando ocorre a perda da posse de bola. De tudo isso descrito, a atual Ponte Preta faz apenas o último requisito. E mal.Muito mal. O setor vive de erros dos adversários ou de bolas longas. Pouco. Quase nada.

3-Atacante tem qual função na Macaca? Clayson, Pottker e Lucca foram muito mal diante do São Paulo. O gol de Lucca não apagou sua atuação abaixo do normal. Só que algo não pode passar batido. Explica-se: os times que atuam na defesa pensam em se defender, mas têm jogadas prontas para o contra-ataque. Seja com o desafogo feito a partir do lateral ou com o atacante recebendo da zona intermediária após passe do armador. O que acontece hoje na Alvinegra? Tudo ao contrário. Eles só pensam em marcar, marcar, dar carrinhos e ficam até sem saber o que fazer com a bola. O contra-ataque vira fruto do acaso e não de uma jogada construída e treinada durante a semana. Uma lástima.

4-Para que servem os três volantes? Assista aos melhores momentos do jogo. Dá para dizer que a facilidade para trabalhar na faixa central foi assustadora. Um time bem armado com três volantes teria boa cobertura ou na pior das hipóteses mataria a jogada na zona intermediária. Cueva, Luiz Araújo e o centroavante Gilberto reduziram tudo a pó.

5-O time é fraco? O elenco deixa a desejar? Para os dois tópicos a resposta é sim. Não há como ignorar a voracidade dos times grandes ao retirarem de times médios como a Ponte Preta atletas com potencial para atuar no Majestoso, como lateral Danilo Barcelos, hoje no Atlético Mineiro. Só que é impossível ignorar a queda de qualidade em relação ao elenco do ano passado. Pottker ficou? Lucca chegou? Tudo isso é verdade. Em contrapartida, foram perdidas como Rhayner, Roger e Felipe Azevedo. O material humano caiu de qualidade. Os jogos do Paulistão demonstram a necessidade de melhoria para o Brasileirão. Urgente.

6- Felipe Moreira tem capacidade para ser técnico da Ponte Preta? Uma reviravolta poderá acontecer? A Ponte Preta pode operar um milagre e ser campeã? Em sã consciência, ninguém pode descartar nada no futebol. Porém, os jogos contra Palmeiras, Ferroviária, Campinense e São Paulo demonstraram uma pobreza tática de assustar. Nenhum posicionamento na bola parada defensiva. Toque de bola inexistente no meio-campo. Laterais envolvidos pelos velocistas adversários. Colocar a responsabilidade sobre os jogadores é cômodo. O treinador tem responsabilidade. E já estamos com mais de um mês de trabalho e o time não evolui. Piorou. Ou acontece uma mudança de conceitos ou o Felipe Moreira fará parte da lista de desempregados do futebol brasileiro, cedo ou tarde. Só será salvo se a diretoria decidir levar o Paulistão aos trancos e barrancos, com a única meta de não ser rebaixado.

7-Uma indagação a diretoria de futebol: Quando a Ponte Preta vai ganhar por mérito próprio? Após o jogo, o gerente de futebol, Gustavo Bueno saiu em defesa de Felipe Moreira. Utilizou como argumento as apresentações contra Ferroviária e Campinense. Duas vitórias produzidas mais por falhas do oponente do que por méritos próprios. Este é o principal entrave da Macaca. Não marca gols de jogadas construídas, treinadas ou ensaiadas. Precisa contar com um erro do volante, zagueiro ou até do goleiro oponente para sair para a galera. Cadê o fruto daquilo que é feito durante a semana? Ninguém sabe, ninguém viu.

 

Poderia fazer outras perguntas. Vou parar por aqui. Único motivo: no fundo, no fundo, a comissão técnica e os dirigentes da Alvinegra não sabem ou tem vergonha de  responder diante de tantos erros e equívocos.

 

(análise feita por Elias Aredes Junior)