Antes, a camisa era Amarela. Agora é azul. Com todo o respeito, uma pergunta deve ser feita: para que serve o estatuto da Ponte Preta?

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A partida contra o Novorizontino neste sábado vai marcar a estreia do uniforme de número três da Ponte Preta. Após a polêmica gerada pela camisa amarela do ano passado, desta vez a diretoria pontepretana e a Adidas apostaram no azul.

Não adianta enrolar. O assunto gera controvérsia na arquibancada. Por saber a tropa contrária que seria formada, o diretor jurídico Giuliano Guerreiro deu a seguinte declaração ao site oficial: “Diferentemente das camisas 1 e 2, que são tradicionais e regidas pelo estatuto, a camisa 3 em todos os times é sempre uma camisa comemorativa e temporária, diferente, que  inova em cores ou modelos. É importante ressaltar isso, que o terceiro uniforme ser azul não infringe o estatuto nem altera nossas cores oficiais, que são e sempre serão preto e branco”, disse o dirigente.

Duro é constatar que pelo menos no ano passado, o cenário não aconteceu. Conforme o próprio Só Dérbi destacou no dia 07 de fevereiro, dos 60 jogos realizados pela Alvinegra em 2016, em 39 vezes o foco foi o uniforme número 01. Nos 21 confrontos restantes, o segundo uniforme estipulado pelo Estatuto foi usado por cinco vezes. Em cada quatro jogos, em um a Macaca jogou fora dos padrões estabelecidos. Algo longe para ser estabelecido como temporário.

Em contrapartida, existe um versículo bíblico que pode ser aplicado em todo este imbróglio: “Tudo me é permitido”, mas nem tudo convém. Tudo me é permitido, mas eu não deixarei que nada domine”. Está em 1 Coríntios 6:12. Qual a tradução? Que por vezes é preciso possuir a consciência de que determinadas medidas podem gerar desagrado em algumas pessoas e de certa maneira o correto é seguir o padrão. De um jeito jeito ou de outro será aceito por todos.

O artigo 119 do Estatuto da Ponte Preta não dá margem a interpretação: “Em nenhuma hipótese será admitida qualquer alteração na bandeira, no escudo, no distintivo e nem nas cores branca e preta”. No artigo 120 subsequente a descrição dos uniformes oficiais: “Os uniformes esportivos serão nas cores preta e branca, com uma faixa transversal na esquerda, iniciando-se no ombro, para a diretoria, indo até a cintura, na parte frontal, conforme registro na Federação Paulista de Futebol”.

O artigo 121 estipula que que qualquer alteração pode ser feita mediante proposta da diretoria executiva e com aprovação do Conselho Deliberativo. E no artigo 122 a sentença: “ Dentro da simbologia e padrões inerantes à tradição pontepretana, deverão ser mantidas as cores alvinegras, ou seja, dando ênfase ao preto e ao branco, evitando-se a inserção ou aplicação de outras cores em seus uniformes, símbolos, escudos, bandeiras, materiais esportivos e materiais de patrocínio, em todas as atividades que praticar”. Ou seja, o estatuto pode até não proibir sumariamente a utilização de outras camisas com cores diferentes. Mas também não permite. Ou seja, o salutar seria exigir que a Adidas, a fornecedora oficial, desenhasse e projetasse uniformes com base nas cores branco e preto. Na dúvida, segue-se a lei.

Mais: exterminaria qualquer boataria de que o terceiro uniforme é na verdade cópia de A,B ou C.

Sim, sei que pessoas mais jovens têm menor resistência a camisas comemorativas e fora do padrão do clube. Agora, se esta mudança constante no terceiro uniforme acontecesse desde a fundação do clube, isto não atrapalharia a identificação com a torcida? No início não tinha a faixa transversal. Mas agora tem. E está estipulada no estatuto. Se a identidade de um clube não é importante porque então vendem e revendem as camisas comemorativas do time de 1977?

Desgostoso com a renuncia das cores principais do clube no terceiro uniforme, o torcedor pontepretano e designer gráfico Fábio Lombardozo procurou hoje de manhã e deu o seguinte depoimento sobre a utilização de outras cores: “Não vejo mais nossas cores no estádio, vou na loja oficial do clube e parece um arco íris de tanta cor que tem lá… Fico triste porque parece estar perdendo a identidade. Temos uma camiseta branco com a faixa sumindo;  a preta sem faixa e  agora uma azul com nossa tradicional faixa? Acho que o marketing da Ponte está vivendo em outro planeta ou nossa seleção canarinho vai jogar de lilás, laranja??? Vemos jogos hoje e sem a legenda não sabemos quem está jogando”, disse.

Acredite: o pensamento dele certamente não é isolado dentro da torcida pontepretana.

(texto, reportagem e análise: Elias Aredes Junior)