Adotar uma visão obtusa dos fatos é o passo inicial para que o analista caia no lugar comum. Fujo disso. E por encarnar tal metodologia acredito que a nomeação de Vinicius Eutrópio como técnico do Guarani não é tão simples como parece. Ou seja, fica simplório e raso dizer “eu não gosto” ou “adoro”.
Primeiro é preciso entender a conjuntura vivida no Brinco de Ouro A crise financeira não passou e salários para a comissão técnica acima de R$ 100 mil é um descalabro. As boas opções são escassas. Vadão? Está na Seleção Feminina. Guto Ferreira? Empregado e com salário total de, no mínimo, R$ 170 mil para ele e comissão técnica. Geninho? Subiu com o Avaí e não sai de Florianópolis. Claudinei Oliveira? Por já ter atuado em clubes da Série A ficou com patamar acima do normal, mesmo caso de Milton Mendes, Celso Roth. Vanderlei Luxemburgo? Gilson Kleina? Se o Alviverde já sofre para pagar profissionais médios, imagine esses.
Ou seja, qual perfil que sobrou para o Guarani? Técnicos jovens, com sede de vencer, com cultura tática refinada e salários acessíveis. Foi essa a aposta quando Osmar Loss foi contratado. Na visão da torcida, foi um desastre. Vinicius Bergantin, Vinicius Munhoz, Léo Condé? Seriam bons nomes. No entanto, a torcida teria paciência com eles? Não haveria risco de uma nova revolta, a mesma que aconteceu com Loss? Afinal, não dá para ignorar os altos e baixos vividos por Louzer. Ou seja, não é delírio imaginar que os responsáveis pelo departamento de futebol do Guarani decidiram apostar em uma bola segurança, que no caso é Vinicius Eutrópio, que por encontrar-se em baixa tem salário menor do que outros profissionais e experiência para suportar impasses e imprevistos.
Só que não deixa de ser uma aposta arriscadíssima. Já chega com alto índice rejeição em um clube cheio de turbulências
O que faria? Eu não contrataria. Mas não estou no gabinete para saber as razões que levaram a tal resolução.
Sem trabalhar desde meados do ano passado, Eutrópio tem como cartão de visitas o bom trabalho com o Figueirense em 2014 e a passagem razoável no Santa Cruz. Chapecoense? Deixou o time na zona do rebaixamento e com aproveitamento de 30,5%. No Bolivar, seu ultimo clube, terminou em quarto lugar.
Ao consultar algumas pessoas, algo me intrigou: Eutrópio é querido no mundo da bola, tanto entre empresários, jogadores e dirigentes. Fui testemunha disso no ano passado quando compareci a um seminário de futebol em São Paulo e como um dos componentes da plateia o novo treinador bugrino foi muito assediado. Nestes dias de negociações, deparei-me com pessoas integradas ao futebol e com carinho ao profissional. Tal facilidade de relacionamento poderá abrir portas para a chegada de jogadores. Só não sabemos a qualidade.
Apesar de entender e descrever a conjuntura que levou a tal decisão não deixo de dar razão a cautela e a rejeição do torcedor do Guarani. A diretoria de futebol fez uma aposta de altíssimo risco em um clube conturbado. Resta sabe se vai levar a banca.
(Artigo escrito por Elias Aredes Junior)