Especial: Acompanhar, cobrir, relatar e auxiliar no debate durante as eleições na Ponte Preta. Esta é a missão do Portal Só Dérbi

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O povo que não conhece sua história não avança. Quem não discute, argumenta, busca soluções pode ter a estagnação como aliada. Seja qual for a idade do raro leitor e da rara leitora, certamente tomou conhecimento de  comportamentos que interferiram no nosso país. Na ditadura militar, a censura era parceira contumaz para falar de política. Que queiramos ou não, interfere em quase tudo do nosso cotidiano. Em meados da década de 1970, os clubes de futebol passaram a abrigar toda a paixão e a comoção reinante em um período eleitoral. Darei cinco exemplos como a política interferiu nos destinos dos clubes e com resultados positivos incontestáveis.

Em 1976, o Flamengo patinava. Era popular mas não tinha conquistado o cenário internacional. Sem um título nacional. Foi quando surgiu a Frente Ampla do Flamengo, e do qual faziam parte os nomes de Marcio Braga, Antonio Augusto Dunshee de Abranches, Joel Tepet, Walter Clark entre outros.

O processo eleitoral teve cobertura intensa da imprensa local e Márcio Braga a partir dali, com sua vitória, liderou um processo de conquista de títulos que culminou com a Taça Intercontinental de 1981. Sim, os protagonistas foram Zico, Tita, Adílio, Nunes. Mas foi a prática da política, do debate, da troca de ideias que viabilizou a mudança de rumo.

Um ano antes da revolução no Flamengo, o juiz de direito Francisco Horta liderou um grupo que ganhou o poder no Fluminense e viabilizou a montagem da Máquina Tricolor que no seu auge contou com Paulo César Caju, Doval, Carlos Alberto Torres, Bufalo Gil, entre outros. Foi a ousadia de um grupo político e com a devida fiscalização e cobertura da imprensa que proporcionaram a conquista de dois estaduais (1975 e 1976) e duas semifinais de Campeonato Brasileiro. Não dá para dizer que a política interna de clube trouxe prejuízo ao Fluminense. Pelo contrário.

Na década de 1980, o Corinthians vivia regime quase ditadorial com Vicente Matheus. Com a proibição de reeleição pelo estatuto corinthiano, o veterano dirigente lançou Waldemar Pires como cabeça de chapa. Não esperava o rompimento do aliado e a abertura para viabilizar a democracia corinthiana, talvez o maior movimento cívico da história do futebol brasileiro e que gerou dividendos dentro do gramado, com dois Campeonatos Paulista, quando a competição tinha relevância.

No Palmeiras, dois instantes foram decisivos em sua história e comprovam como a politica interfere. A gestão de Carlos Bernardo Fachina Nunes foi o começo da parceria com a Parmalat, que queiramos ou não, produziu como saldo dois títulos brasileiros, três paulistões e uma Libertadores. Como negar o dividendo positivo gerado pela política? Eis que entre 2009 e 2010, Luiz Gonzaga Belluzzo, apesar das derrotas no gramado, viabilizou a concepção do Allianz Park, uma máquina de ganhar dinheiro.

Após ler essa conjuntura histórica você deve perguntar-se: o que tudo isso tem relação com o futebol campineiro? No caso da Ponte Preta, tudo.

Desde o início, este Só Derbi  acreditou que o futebol não pode ser abordado apenas em relação aquilo que acontece dentro das quatro linhas. Em primeiro lugar porque não vivemos isolados e sem conexão. Somos pessoas em constante transformação e influenciados por diversas maneiras. O futebol não foge à regra. Se um jogador ou técnico é exitoso têm relação com aquilo que acontece nos bastidores. O dirigente tem papel fundamental. Não pode ser ignorado. Precisa ser cobrado, fiscalizado e analisado.

E no caso da Ponte Preta chegou o período mais delicado desta relação. Eleições estão marcadas para o dia 27 de novembro. Nós do Só Dérbi acreditamos que o clube vive um momento único sob o ponto de vista jornalístico. Uma situação que encontra-se no poder há 20 anos e sem respaldo das arquibancadas. Com erros e equívocos que detonaram um sentimento de mudança e de insegurança em virtude daquilo que poderá acontecer. E uma oposição que, se tem o mérito de fomentar o mérito de fomentar o debate e instigar a militância entre os torcedores, ainda peca por não apresentar um plano de governo consistente. Ou seja, reforça a insegurança.

Como este Só Dérbi poderia cometer o erro histórico de virar as costas e fechar os olhos para este instante? Independente de quem seja o vencedor, agora é o momento de confrontar dados, cobrar promessas, projetar falhas e equívocos dos últimos anos e fazer com que os torcedores não discutam sobre homens e sim sobre Ponte Preta.

Da formação original do Só Dérbi tínhamos gerações diferentes. Eu, o mais velho, Adriana Giachini, uma geração atrás e jovens como Paulo do Valle e Julio Nascimento. Temos visões diferentes sobre futebol, mas asseguro que todos temos a mesma convicção de que a democracia, a liberdade de expressão e a descriminalização do ato de fazer política, ou seja de debater ideias, é o único caminho para a Ponte Preta resgatar o seu caminho histórico. O Guarani também não pode prescindir de receita.

Este Só Dérbi pode errar por excesso e as vezes cometer injustiças, mas jamais cometerá o pecado que corrói qualquer trabalho jornalístico e que é inaceitável na seara esportiva: a omissão.

(texto de autoria de Elias Aredes Junior)