Como possuir controle emocional com o (baixo) rendimento do Guarani em campo?

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Quando uma equipe de futebol entra no gramado, a busca pela vitória chega em alguns momentos para ficar em segundo plano. Suas ações, jogadas, tramas e a postura dos atletas no gramado é responsável por gerar sentimentos nos torcedores nas arquibancadas e também sentado ou deitado de frente para a televisão. Devemos prestar atenção quando 90 minutos se transformam em palco de diversos comportamentos. O Guarani perdeu por 2 a 0 para o Vila Nova na abertura da Série B do Campeonato Brasileiro. Nas próximas horas você receberá uma fartura de informações sobre como transcorreu a apresentação da equipe bugrina. Quero focar minha análise sobre como as decisões tomadas no gramado reverberam nos corações alviverdes que acompanharam a partida.

Até a metade da etapa inicial, a equipe gerou esperança no torcedor. Não algo capaz de considerar que o fantasma do Paulistão estava enterrado, mas pelo menos uma busca ao ataque e lampejos de jogadores que aqui e ali pareciam agredir o Vila Nova. A busca de espaços por parte de Airton, uma tentativa de lampejo por parte do Luan Dias, o toque de bola feito por Camacho e Matheus Bueno. Não era o ideal, mas bem melhor do que se via no Paulistão.

Até que os donos da casa abriram o placar aos 31 minutos. Apagão. Falta de acerto defensivo. O fato é que a partir daí, o Guarani desceu ladeira abaixo até o final do primeiro tempo. E a desolação invadiu o torcedor bugrino.

O segundo tempo ficou marcado pela expectativa. Não é possível uma equipe apresentar um futebol pior. Aconteceu. O tento anotado por Junior Todinho aos 11 minutos foi a consequência de um time atarantado, perdido, sem rumo. O torcedor só podia exalar a tensão pelos poros.

Os minutos passaram, as substituições foram feitas e o que se viu foi uma reprise de erros táticos e técnicos ocorridos no Campeonato Paulista. Não há como fugir da constatação: qualquer torcedor minimamente consciente alternou entre a preocupação e o desespero.

Alguém pode alegar sobre a precocidade das críticas e falta de um fôlego para o trabalho do técnico Claudinei Oliveira. Poderia concordar com a tese, mas os fatos impedem. Afinal de contas, nós falamos de um clube que na reta final da Série B do ano passado colheu nas últimas rodadas o saldo de quatro derrotas e quatro empates. Aproveitamento de 16,66%. No Paulistão, flertou com o rebaixamento até a rodada derradeiro e somou 10 pontos em 12 jogos. Duas vitórias, quatro empates e seis derrotas. Aproveitamento de 27,77%. Nos últimos 20 jogos antes da estreia na Série B, o Guarani tem duas vitórias. Pouco. Muito pouco.

Um detalhe deve ser ressaltado. Pelas contratações realizadas, Danilo Silva não deveria ser criticado. Dentro da condição financeira do Guarani, elas foram adequadas. Então, o que acontece? Por que a má fase não passa?

Alguns fatos podem ir para o subjetivo, mas no fundo correspondem à realidade. Se o Guarani hoje tem as contas de certa forma controladas e seu Conselho de Administração tem fatores positivos para exibir, também é verdade que o clube está dissociado de boa parte da torcida, seus dirigentes simplesmente se recusam a se comunicarem com o torcedor e a disputa política deixa sequelas até hoje na comunidade. Não preciso citar nomes, mas todo torcedor bugrino minimamente bem informado conhece alguém que era próximo do clube e agora está distante, sem qualquer comunicação. Uma equipe que perde prazos para reivindicar sua vaga na Copa do Brasil e que não informa ao torcedor o andamento das negociações da nova Liga. Uma agremiação que quase não conversa com as arquibancadas em tempos de aflição.

O que se viu na reta final da Série B, no Campeonato Paulista e na estreia da Série B é apenas reflexo de um processo lento, gradual e corrosivo de identidade de um clube centenário e campeão. E este processo é indestrutível, sem prazo para terminar. A frase é batida, mas serve como uma luva na atual fase do Guarani: a bola não entra por acaso. 

(Elias Aredes Junior-com foto de Roberto Correa-Vila Nova F.C)