Estádio Moisés Lucarelli: 69 anos de uma paixão eterna

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Homens testemunham a evolução de cidades, estados e países. Edifícios são marcos. Locais de fatos históricos. Palco de encontros amorosos, rompimentos, reconciliações, alegrias impossíveis de serem medidas.

E quando um edifício é a extensão da alma de uma coletividade?

O que dizer quando toneladas e toneladas de concreto exalam amor, emoção e carinho?

Torcedor apaixonado e sem medida, o pontepretano tem patrimônios que trata com devoção: Oscar Salles Bueno Filho, o mestre Dicá; a Macaca, mais do que uma mascote, um tapa naqueles que acobertam o racismo em nossos dias; e o Estádio Moisés Lucarelli, que completa nesta terça-feira (12) 69 anos de existência.

Ao contrário da atualidade, em que estádios reformados e construídos são símbolos do desejo de empreiteiras, empresários e do lucro desmedido, a Ponte Preta tem no Majestoso o símbolo de uma saga de superação.

Amigos e com uma paixão em comum, Olímpio Dias Porto, José Cantúsio e Moyses Lucarelli arregaçaram as mangas, juntaram recursos e adquiriram um terreno para construir um grande estádio. Do tamanho do amor que tinham pela agremiação.

O local escolhido foi a chácara Maranhão, no bairro Ponte Preta. Ao olhar o lugar, o sonho parecia distante. Existia somente uma casinha simples, localizada em que hoje está o centro do gramado.

Adquirido o terreno, uma dor de cabeça no horizonte: Como construir? Com quem? De que maneira? Nesta hora, a convocação foi feita para viabilizar um gol de placa. O trio de amigos obteve material de construção junto a empresários e foi detonada a famosa “Campanha do Tijolo”, iniciada após a terraplanagem.

Foi uma saga de quatro anos. Durante a semana, os paralelepípedos da rua Barão de Jaguara presenciavam caminhões que recebiam doações de material de construção e tijolos. Nos finais de semana a torcida atuava em mutirão para erguer o estádio.

A Pedra Fundamental foi lançada em 13 de agosto de 1944 e no dia 7 de setembro de 1948 foi realizada a inauguração parcial do Majestoso em missa campal. Cinco dias depois, a loucura e sonho do torcedor pontepretano virava realidade. Um estádio particular para rivalizar com São Januário, localizado no Rio de Janeiro e o Pacaembu, em São Paulo.

Na década de 40, quando a obra foi iniciada, Campinas tinha 140 mil habitantes e o estádio previa um local para abrigar 30 mil. Pense o tamanho da ousadia: um estádio para rivalizar com similares localizados nas duas principais capitais do Brasil.

A história voou. Vitórias e alegrias foram vividas no estádio Moisés Lucarelli. Que está com seus dias contados. A atual diretoria estipulou como obsessão a construção de uma arena em que se localiza o Centro de Treinamento do Jardim Eulina.

Uma obra necessária para alguns, devido às exigências de um futebol cada vez mais mercantilizado. Para outros, é uma afronta por querer arrebentar e destruir com um símbolo de quase 70 anos.

Independente do debate, algo é certo: o Majestoso está cravado para sempre no coração do torcedor pontepretano.

(texto de Elias Aredes Junior)