Paro e imagino por um instante o Guarani como uma eterna entrevista coletiva. As perguntas não cessam, as respostas parecem infinitas e o microfone sempre ligado. E o único entrevistado é o presidente Horley Senna.
Talvez nem Beto Zini supere Senna na verborragia. Senna fala de manhã, tarde e noite. Se puder no período da madrugada. Iniciado na trajetória política pelo ex-vereador Cid Ferreira, desde o começo aprendeu de que a arte da sedução vem por intermédio das palavras.
Água demais mata a planta? Correto. No caso do presidente bugrino tira o foco do essencial, a montanha de tarefas a serem executadas para deixar o Guarani estruturado e moderno. Suas frases feitas, suas acusações contra a oposição e reclamações de ser incompreendido, em 90% dos casos ajudam a esconder suas falhas de gestão e equívocos administrativos. Ao ser cobrado, ele dá a resposta como quer, da maneira que quiser e no formato desejado. Em algumas oportunidades, sem ser contestado. Afinal, tempo é dinheiro. No rádio, televisão, jornal e internet.
A ânsia de falar de tudo e de todos gera um efeito nefasto: a dificuldade de o público verificar se seus auxiliares trabalham. Ou detectar até que ponto existe metodologia de gestão. Não dá. Horley Senna usa a palavra como escudo. O personagem é criado como um álibi para fugir de questões espinhosas ou produzir o menor dano possível a sua imagem e ao seu grupo político.
Exemplo prático: quando afirma no início de cada entrevista no rádio de que fala para a maior torcida do interior do Brasil o efeito é imediato: o torcedor bugrino faz cara muxoxo mas aproveita para tirar uma casquinha da rival. O torcedor pontepretano, que também acompanha os programas esportivos, fica tão revoltado que desconcentra sobre o que é falado.Não duvido que aconteça com vários bugrinos.
Boas entrevistas devem ser dotadas de conteúdo. Se fosse um prato culinário, diria que Horley Senna usam suas entrevistas como uma cozinheira amadora utiliza uma pistola de chantilly: coloca um grande volume em uma massa que não cresceu quase nada. E que precisa do ingrediente como muleta para forrar o estômago e tornar tudo palátavel. No fundo, tanto a cozinheiro como o cliente sabem que a fome retorna. Mais cedo do que se imagina.
(análise feita por Elias Aredes Junior)