Ostentar orgulho em determinadas situações é burrice. Ser humilde para copiar boas ideias é nobre, digno, decente e mostra-se antenado com os novos tempos.
Nos quase três anos de funcionamento este Só Dérbi ouviu desculpas dos dirigentes em relação ao preço dos ingressos e o acesso ao torcedor pobre. Afirmavam que o ingresso já era barato. Cobrar R$ 20 reais era um preço justo.
Agora pense em um trabalhador bugrino ou pontepretano com um salário mínimo (R$ 934) por mês para sustentar sua família. Como ele pode pagar R$ 40 por mês para assistir ao seu time do coração? Como?
Alguns, com seu espírito elitista e cruel, sacam do bolso que o futebol é elitista e não há o que fazer. Pois o Paysandu deu um tapa na cara de todos aqueles que desejam botar o pobre para fora do estádio.
Neste mês, em uma atitude inédita, o clube paraense cadastrou torcedores que ganham até um salário mínimo para assistirem aos jogos com seu mando em 2019 de graça. Vou repetir: de graça.
O ato é de autoria de um clube que caiu para a terceira divisão, não terá cotas robustas à disposição e ainda irá conviver com problemas para montar times competitivos. Teve em 2018 média de público de 4996 pagantes por jogo. Ou seja, teria motivos de sobra para enfiar a faca nos valores dos ingressos e botar o pobre no olho da rua. Tomou o caminho contrário.
Por que? Dirigentes erram, mas os da equipe paraense perceberam que torcedor é, antes de tudo, cidadão, e merece respeito e carinho. E indiretamente poderá trazer outros com condição de gastos, atraídos pela festa das arquibancadas.
E em Campinas? A Ponte Preta sai ano e passa temporada e fica fissurada no seu programa de sócio-torcedor. Faz mil e uma peripécias e no fundo tenta esconder o básico: a diretoria traça um caminho elitista. E sem ânimo para voltar.
No Guarani é idêntico. Tido no passado como uma agremiação de classe média, hoje o Alviverde ganhou novas fronteiras. Está presente na periferia e bairros pobres.
Pergunto as diretorias dos eternos rivais: quantos torcedores bugrinos e pontepretanos estão excluídos dos estádios por não terem a mínima condição de pagar por um ingresso? O que impede de copiar o projeto do Paysandu?
O resgate do futebol campineiro e a sua manutenção no pelotão de cima do futebol brasileiro (leia-se Série A do Brasileirão) passa não só por melhoria de infraestrutura e contratação de bons jogadores, mas pelo retorno de um personagem hoje esporádico nas arquibancadas do Majestoso e do Brinco de Ouro: o pobre.
(análise feita por Elias Aredes Junior)