Descoberto em 1500, o Brasil parecia destinado a ser um país rural e contar com autoritarismo como alicerce. A escravidão depreciou, destruiu e cometeu um crime contra a população negra e construiu um histórico de violência e segregação que até hoje perdura como herança.
Séculos e séculos passaram e tudo parecia imóvel. O mundo jamais nos conheceria. Ninguém teria contato com a brasilidade e a pujança de um povo caracterizado por tantas diferenças regionais.
Tudo mudou no dia 23 de outubro de 1940. Uma casa humilde em Três Corações foi o palco para o nascimento de Edson Arantes do Nascimento. Negro, pobre, brasileiro e com um destino traçado: adotar a bola como sua companheira e ser conhecido para sempre por um apelido de quatro letras. Pelé. Simples, sintético, gigante e inigualável.
Em 16 anos, Pelé projetou uma equipe mediana para o estrelato do futebol. Com Pelé no gramado, o Santos ganhou tudo. Paulistões, Brasileiros, Copas do Mundo, Libertadores, Mundial Interclubes. Na Seleção Brasileira, o mundo aos seus pés. Quatro copas do mundo disputadas. Três conquistadas.
Incansável, diferenciado e único. Abriu as portas do futebol nos Estados Unidos e foi o pioneiro em transformar o gramado em fonte para patrocínios pessoais. Campanhas humanitárias tiveram a cara de um símbolo em forma de gente. Capaz de parar guerras. Ou produzir alegrias em tempos obscuros.
A cultura não ignorou o personagem. Filmes, livros, exposições. Não há nenhuma expressão artística que não tenha colocado o seu foco no super-herói da bola. Errou? Obvio. Como todo ser humano. Ignorar sua divindade seria inaceitável? Ou um pecado imperdoável? Escolhemos as duas opções.
Pelé, 80 anos. Agradecer? Parabenizar? É pouco. Não há como definir o sentimento em relação a uma pessoa que tirou o Brasil da periferia e lhe conferiu dignidade, respeito, honradez. Em troca, com justiça, recebeu a imortalidade. Vida longa ao Rei!
(Elias Aredes Junior)