Ponte Preta-2020 e o diagnóstico duro e necessário: um time que não desperta paixão no torcedor

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Para quem deseja acompanhar de modo mais próximo, o futebol é um desafio constante. Fatos  nos levam a novas descobertas. Cenários desmontam convicções. A atual Ponte Preta encaixa-se neste modelo.

Perceba que a Macaca já fez tudo aquilo que é tradicional: trocou o treinador, arregimentou reforços, qualificou a comissão técnica e conta com jogadores de renome. Não adianta. Não embala. Não comove. Não demonstra futebol de qualidade na Série B. O aproveitamento de 28,5% nos últimos sete jogos fala por si.

Bastidores não explicam tudo. Quando foi vice-campeã paulista em 2017, da Sul-Americana em 2013 e até no acesso em 2014, os dirigentes e seus opositores não deixavam de se engalfinhar. O que ocorre dessa vez?

Nada como a cultura para abrir nossas mentes.

No sábado á noite, ao assistir na Netflix o documentário “Playbook”, um relato sobre a conduta de treinadores vencedores em todos os esportes. Parei para acompanhar o capitulo sobre José Mourinho. E logo no comecinho, o treinador português, hoje, no futebol inglês, me concedeu a resposta que tanto procurava. “Você nasce e vai morrer amando o mesmo clube. Não se vira a casaca.  Mas às vezes, você não ama o time”, disse. Bingo. Na mosca.

Este é o problema: o atual time da Ponte Preta não desperta paixão no seu torcedor. Não comove. Não dá o calafrio na espinha  oriundo na expectativa do seu time entrar em campo.

E a história comprova: na Ponte Preta, sem paixão não se consegue chegar a lugar nenhum.

José Mourinho utilizou este conceito para exemplificar como encontrou o Porto em 2002. E destrinchou outra tese para reforçar a importância da paixão como combustível. Além de ser uma cidade com um grande contingente de operários e de uma classe trabalhadora ativa, o sentimentalismo é algo presente. “É uma área onde as pessoas sentem uma grande ligação com o clube se ele representar os valores dessa gente”, disse. Na hora, pensei que ele se referiu a Alvinegra de Campinas.

Nossa reflexão precisa  abordar o essencial: por que essa paixão não é despertada? Cada um tem sua tese. Quero expor dois motivos que na visão são essenciais e que estão presentes desde o começo da temporada.

O primeiro motivo é a ausência de explicação dos dirigentes.

Cada torcida tem sua característica. Na Ponte Preta, dirigente tem que falar. Explicar. Justificar. Ouso dizer: as 24 horas do dia.

Por que Marco Antonio Eberlim e Márcio Della Volpe tem defensores ferrenhos dentro da Ponte Preta? Apesar de serem de estilos opostos, ambos tinham algo em comum: não tinham medo da imprensa e tampouco da reação da torcida. Seus atos eram explicados de maneira clara e cristalina. Geravam respeito e credibilidade nas arquibancadas. E faziam com o torcedor tivesse um comportamento paternar (ou maternal) em relação a equipe que este conduzia. Detalhe: eram dirigentes estatutários.

Pense bem: estamos em outubro. O presidente Sebastião Arcanjo só concedeu uma única entrevista coletiva. Diretor de futebol não existe. O colegiado de futebol formado por Sérgio Carnielli e Vanderlei Pereira não fala nada. Como despertar paixão no torcedor diante de tamanha frieza? Não rola.

O outro motivo é consequência de anos e anos de desleixo em relação a politica das categorias de base. Ivan é o único jogador revelado como titular. De resto, somente forasteiros. Isso é péssimo.

A Ponte Preta já teve times mais limitados e o torcedor era vidrado ao ponto de chorar e de se emocionar. Por que? Simples: a base era formada em casa. Pode parecer loucura mas se Jefferson estivesse no Majestoso –está emprestado ao Botafogo- talvez fosse um reserva mais eficiente para Apodi.

Na Macaca contratar 15, 20, 30 jogadores sem vinculo nenhum é aposta arriscadíssima. Para cada Renato Cajá que cria identidade, temos 15 ou 20 armadores que nos últimos anos não deixaram saudade.  Não criaram empatia. Nem paixão.

Que Marcelo Oliveira saiba: estratégia e modelo de jogo são fundamentais. Escalar bem idem.

Na Ponte Preta, porém, é preciso algo mais. Se não despertar emoção no torcedor, esqueça. O acesso ficará apenas no sonho.

(Elias Aredes Junior)