Ponte Preta e seu drama atual: ídolos com prazo de validade

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O que leva a torcida ao estádio? Como encher as arquibancadas? Existe uma receita conhecida: montagem de bons times, comissão técnica competente, perspectiva de disputa de títulos e ídolos. Este último item é precioso. É o que produz o elo, a semente da paixão por uma instituição. Na Ponte Preta tal roteiro jamais será desprezado.

Quantos não se apaixonaram pela Macaca ao ver o futebol vistoso de Dica, a volúpia de Rui Rei ou a garra e a determinação de Monga? Ídolo é o padre informal de um casamento eterno.

Disparidade econômica em relação aos concorrentes atrapalha? Não há dúvida. Só que não é de bom tom ignorar algo primordial para o vínculo ser formado: tempo de estadia. Renato Cajá tem seguidores no Majestoso por dois motivos: sua qualidade técnica e participação em campanhas emblemáticas, como os acessos obtidos nas Séries B de 2011 e 2014 e o vice-campeonato paulista de 2008. Entre idas e vindas, foram cinco temporadas com a camisa pontepretana. Não é pouco.

Piá é outro ídolo forjado pela história. Tem participações pela Macaca ao contar o período de 2000-2003. Estava inserido no elenco semifinalista das seguintes competições: Paulistão, Copa do Brasil e com boas participações em Brasileirões. Criou um vínculo. Morou em Campinas, viveu a cidade, o clube e cravou seu nome. E Washington? Hoje “Coração Valente”, o atacante tem 83 jogos contabilizados com a camisa alvinegra. Jogou em 1998 e depois de 2000 a 2002. Ídolo pleno. Até porque nunca  deixou de relembrar a Alvinegra e suas passagens.

Chegamos em 2017. O que mudou? Não sei de quem é a culpa, mas atualmente a Ponte Preta tem uma característica nefasta: ídolos com prazo de validade. Tem dificuldade para estabelecer vínculos. Alguns por causa de episódios controversos, como Roger, hoje no Botafogo e que saiu após uma frustrada negociação de contrato.

E hoje? Na prática o quadro é pior. Existe Aranha, identificado com o clube e recentemente integrado. Mas o que leva torcedor ao estádio também é gente que faça gols e decida jogos. Por muito tempo. Aí o quadro fica deteriorado. William Pottker é bom atacante, veloz, letal na conclusão mas a partir de maio estará no gramado do Beira-Rio e com a meta de balançar as redes na Série B. Lucca, por sua vez, certamente fará boa temporada em Campinas, mas não emplacará 2018 em virtude de encontrar-se emprestado junto ao Corinthians. Ou seja, os ídolos de hoje não estarão produzindo alegria amanhã.

Garotos revelados na base poderiam exercer a função de substitutos em médio e longo prazo. Só que como assegurar a passagem do bastão se Ravanelli é bombardeado pela insegurança do seu potencial pela própria comissão técnica e diretoria e o garoto Yuri, revelado na Copa São Paulo já conhece decor o trajeto até o banco de reservas? Sim, todos os times grandes sofrem com o êxodo. Mas sempre existe tem um ou outro jogador que emplaca duas ou três temporadas seguidas. É o caso de Diego Souza no Sport, Kleber no Coritiba,Douglas Coutinho no Atlético-PR, entre outros.

A Ponte Preta precisa de bons jogadores, filosofia de futebol e estabilidade para fazer um bom Campeonato Brasileiro. Os frutos serão colhidos de modo consistente se vierem acompanhados de atletas capazes de criar vínculos e raízes e com isso arrastarem multidões ao Majestoso.

(análise feita por Elias Aredes Junior)