Ponte Preta: homenagens a Chapecoense são muito mais importantes do que cores e rivalidades

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O Brasil ainda encontra-se consternado e emocionado pelo desaparecimento de jogadores, dirigentes, comissão técnica e convidados da Chapecoense para a final da Copa Sul-Americana. Equipes do mundo inteiro encaminharam homenagens. No Brasil dogmas e tabus foram quebrados em nome da solidariedade, do amor e da humanidade.

O Corinthians pela primeira vez na sua história utilizou a cor verde um canal seu de comunicação, no caso o site oficial. As diferenças com o Palmeiras ficaram em segundo plano. Em Curitiba, o Atlético Paranaense iluminou a Arena da Baixada toda de verdade. Pense que o coxa branca é o seu principal adversário e constatará o tamanho do gesto de grandeza.

Em Campinas, os grupos sociais com torcedores da Ponte Preta foram invadidos com a discussão se a Macaca na rodada final do dia 11, contra o Coritiba deveria usar uma camisa de cor verde. Ou algo que tenha  a cor que relembre a equipe de Chapecó. Muitos se colocaram a favor e fizeram questão de opinar que neste caso as diferenças com o Guarani ficam em último lugar.

Existe uma parte reticente, por vezes até raivosa. Afirma que o luto é preto e que não há hipótese de utilizar uma cor que relembre o principal rival.

Respeito todas as opiniões, mas não consigo assimilar alguns  conceitos. Para ficar apenas naquilo que tem ligação conosco, não é impossível que a utilização do verde no uniforme da Ponte Preta seja mais pecaminoso do que as vidas perdidas no acidente. O verde não pode e não é mais prioritário do que o sofrimento da esposa do volante Josimar, de seus filhos e de toda a família do volante Gil, que defenderam as cores da Macaca.

Você que não aprove a homenagem pense que em nome de uma rivalidade estaremos adotando uma atitude que não dará a dimensão exata do que representa essas pessoas.

Quando uma pessoa falece e se ela é importante para você, a sua postura é  tomar qualquer medida para apoiar seus entes queridos. Vou relatar algo muito particular. Quando meu pai faleceu, em 17 de setembro de 2011, avisei um amigo meu, o jornalista Gustavo Porto sobre o acontecido. Telefonei as 06h30. Ele mora em Ribeirão Preto. Eu em Sumaré e o enterro em Campinas. Pois ele parou tudo que deveria fazer e as 10h30 ele estava no velório. Outro, André Lux, não sabia sequer o horário e o local do enterro. E apareceu.

Agora, pense, raciocine: se eu, cinco anos depois nunca mais esqueci gesto de tamanha grandeza, qual será o tamanho do sentimento de gratidão dos familiares vitimados por esse acidente se a Ponte Preta utilizar o verde? Qual será o sentimento de carinho e gratidão que as famílias de Josimar e Gil e das outras vítimas terão ao saber que o clube no qual eles defenderam um dia chegaram ao estágio de utilizar um uniforme ou algum adereço de cor verde para homenageá-los. Qual o preço disso? Qual o valor?

O futebol vive de rivalidades. Concordo. São os duelos no gramado que transformam este jogo em algo emocionante e épico. Mas muito mais importante do que o futebol, do que vitórias, empates e derrotas, é uma nação estender a mão quando o sofrimento humano dilacera a alma. Pontepretano, se pudesse falar eu só lhe diria: verde não pode ser sinônimo de ódio e sim de carinho. Pense na vida. Ela vale mais do que qualquer cor e rivalidade.

(análise feita por Elias Aredes Junior)