Para quem conhece um pouco de politica, sabe que boa gestão não basta. É preciso comunicação, prestação de contas e um líder que saiba transmitir esperança de dias melhores. Gente responsável para deixar as contas em dia mas também em proporcionar alma leve a quem está ao redor.
Pegue este conceito e analise um estudo que elegeu a Ponte Preta como a melhor gestão do futebol brasileiro, especialmente pela relação capacidade de investimento confrontado com os resultados. A pesquisa é feita com base na CIES Football Observatory, um dos principais sites de análises e estudos estatísticos do futebol no mundo e foi feita pelo analista Marcelo Paciello da Silveira, graduado em Marketing pela FAAP e com mestrado em Gestão do Esporte com ênfase em Marketing Esportivo e que fez uma avaliação sobre os principais times do país.
O ranking elaborado pelo pesquisador é baseado na diferença entre a classificação final na última edição do Brasileirão e o posicionamento das mesmas agremiações com base nos salários, chamada de GAP. Por esse estudo quanto maior essa diferença, melhor o desempenho. O pesquisador considerou oito meses de salário, período em que é disputado o campeonato nacional.
Cabe a pergunta: por que a melhor gestão do Brasil não é reconhecida de modo unânime dentro de sua própria comunidade? Por que a oposição é tão crescente na torcida? O que leva uma parte das arquibancadas a jogarem os resultados na lata do lixo e insuflarem protestos no primeiro tropeço no gramado? Não apresente a explicação que a torcida da Ponte Preta é corneteira, chata, insatisfeita. É raso, tosco, artificial. É preciso pensar, raciocinar além da caixinha.
Para começar minha exposição, recordo um episódio da politica tradicional. Em 1998, o então governador paulista Mário Covas tinha uma administração elogiada por todos sob o ponto de vista financeiro e administrativo. Saneou as contas, fez algumas obras sociais, promoveu privatizações e em qualquer lugar do mundo a sua reeleição parecia favas contadas. Nada disso. Paulo Maluf era o primeiro lugar nas pesquisas e Covas teve que se desdobrar para sair do atoleiro.
Este é o principal problema na Ponte Preta. Não adianta reconhecimento externo se não existir diálogo e comunicação. Incessante. Hoje, a Macaca tem um presidente de honra que não pode se manifestar por questão judicial, um presidente de fato e de direito que não gosta dos microfones e um diretor de futebol que não tem timing adequado para descrever os seus feitos. Veja: falo de uma administração que chegou a uma final de Campeonato Paulista, alcançou o oitava colocação no Brasileirão. Perceba que seus resultados são até superiores em alguns aspectos a outros que ocuparam o departamento de futebol e tiveram até mais respeito perante o torcedor. Por que? Simples: quando era vice-presidente de futebol ou diretor do departamento, Marco Antonio Eberlim nunca fugiu de e embates entrevistas na imprensa. Encarava as piores crises. Ou alguém esqueceu do que aconteceu no Brasileirão de 2003? Modelo aplicado a Márcio Della Volpe, que de tanto gostar de falar e dar entrevistas parecia até predestinado a começar a dar declarações assim que abria a porta da geladeira de sua casa. A ânsia de esclarecer ou colocar seu ponto de vista criava uma empatia com a torcida. Hoje, apesar da reconhecida gestão, tanto Vanderlei Pereira como Sérgio Carnielli e Hélio Kazuo tomam medidas que muito mais afastam do que aproximam a torcida. E futebol é negocio mas é, antes de tudo, contato humano.
A falta de comunicação não é o único ponto que atrapalha o reconhecimento da gestão pontepretana em seu próprio território. A diretoria executiva parece “especialista” em machucar e ferir grupos políticos inseridos na comunidade pontepretana.
O primeiro agrupamento são os chamados tradicionais. Pontepretanos de raiz, criados dentro do Majestoso e com história para contar. Pessoas que sabem decor e salteado a trajetória do clube mais velho do Brasil. Não são poucos. E a diretoria certamente os desagrada quando deixa de jogar com o uniforme tradicional e pensa em alugar a unidade do Jardim das Paineiras. Traz dissabor por que não abre espaço para vozes experientes se manifestarem com clareza dentro do Conselho Deliberativo.
O que dizer então daqueles ávidos por títulos relevantes ? Não cola o argumento de que é preciso esperar a gestão financeira dar resultados porque só assim o título surgir naturalmente. Fica difícil engolir a explicação ao percebermos que Sérgio Carnielli está no comando da agremiação há 20 anos e o próprio Vanderlei Pereira, antes de ser presidente, era o tesoureiro. Como não fugiu da armadilha de contratar, montar times e desmontar em um espaço de um ano? Por que não viabilizou um Centro de Treinamento de Primeiro Mundo? Pois é.
Junte tal mosaico e chegue a seguinte constatação: a melhor gestão do Brasil acerta no atacado e erra no varejo. Pior: recusa-se a checar seus equívocos. Um dia muda.
(análise feita por Aredes Junior)