Prioridade no Majestoso em 2018: trabalhar para que os jogadores entendam o que significa jogar na Ponte Preta

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Um jornalista esportivo minimamente preocupado com sua atualização profissional deve ler diversos jornais e sites. Ficar antenado com declarações e tendências. E o meu sinal de alerta foi ligado hoje com a entrevista concedida Vanderlei Luxemburgo concedida ao jornal “O Estado de S. Paulo”.

Reclamações sobre a desvalorização dos técnicos brasileiros é um conceito batido proferido por Luxemburgo. Mas ao ser indagado sobre o modus operandi daquilo que é vivido no mundo da bola, o ex-técnico da Seleção Brasileira deu uma resposta que, de certa forma, explica por que a Ponte Preta encara dificuldades para emplacar bons resultados e conquistas relevantes. A íntegra de sua resposta é a seguinte:

O ambiente do vestiário é totalmente diferente do que era anos atrás. Os jogadores não se envolvem tanto com seu projeto, a sua participação, com os colegas. Já vi jogadores meus saírem na porrada no vestiário e eu incentivei, porque depois eles tinham que brigar com os adversários. Hoje em dia, a assessoria de imprensa já liga, passa uma informação para alguém, o empresário entra na história. No Palmeiras, eu falei para o Evair que ele precisaria se prejudicar e jogar recuado, para deixar o Edílson e o Edmundo no ataque. O Evair entendeu. Se eu fizer isso hoje, o jogador liga para o empresário para reclamar. O vestiário agora é superlotado. O jogador sai da palestra e, em vez de se preocupar só com o jogo, fica com o celular e o fone de ouvido”

Quem fala isso não é um jornalista ou intrometido, e sim um profissional com quase 50 anos de estrada. E o que isso tem relação com a Ponte Preta? Tudo.

Em sua história, a Alvinegra foi marcada por equipes que, antes de demonstrar talento e habilidade, tinham comprometimento com a instituição e com o projeto do departamento de futebol. Em 1977 e 1979, os vice-campeonatos obtidos tiveram como marca atletas revelados pelas categorias de base, como Carlos, Oscar, Dicá entre outros. Ou seja, entendiam o que era a Ponte Preta, o sentimento da torcida e tudo aquilo relacionado. Isto é, envolvimento. Quando conseguiu o acesso á divisão de elite do futebol paulista em 1989, a figura principal era Monga, um centroavante com recursos técnicos limitados, mas uma raça e dedicação que comoviam qualquer um que estivesse sentado na arquibancada. O acesso em 1997 também teve figuras que, apesar de não serem formadas na Macaca, demonstravam uma dedicação inquestionável como o armador Grizzo.

Percebam: as últimas boas campanhas da Macaca tiveram tal característica. Em breves instantes, treinadores ou dirigentes conseguiam incutir na mente dos atletas a importância de entregar a alma em campo, de lutar por cada palmo do gramado. O reconhecimento viria de maneira natural. Foi assim com Jorginho na Sul-Americana de 2013; ou Guto Ferreira que teve Adrianinho, o goleiro Roberto e o centroavante Alexandro. como aliados na Série B de 2014. No ano passado, Gilson Kleina usou com eficiência a psicologia e arrancou forças do time que eles nem sabiam que nutriam dentro da alma. Resultado: vitórias contra Palmeiras e Santos no Majestoso e chegada à decisão do Paulistão.

Faltou dedicação no Brasileirão? Dedicação não faltou, concordo, mas um atributo ficou ausente: empatia, conexão do gramado com as arquibancadas. Recorde o time do Brasileirão de 2012, tão limitado quanto esse, e saberá do que falo.

Ronaldão e Gustavo Bueno buscam a remontagem da equipe. Voltar a Série A do Brasileirão e de preferência com título é fundamental. Duro será superar o artificialismo e o distanciamento presente na maioria dos jogadores do futebol moderno. Definitivamente isto não é e nunca será a cara da Ponte Preta.

(análise de Elias Aredes Junior)