Qual o tamanho da responsabilidade de Gustavo Bueno na atual crise da Ponte Preta?

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Em determinado dia, um companheiro de imprensa me encontrou no estádio Moisés Lucarelli antes do jogo contra o Grêmio. Papo vai e vem e a Ponte Preta surgiu na pauta. Com apenas alguns minutos de conversa percebi nossas visões divergentes, especialmente em relação a um tema: quem era culpado pela crise da Macaca. Apesar de admitir os erros de Gustavo Bueno, este interlocutor defendia sua performance como dirigente nos anos anteriores quando participou do vice-campeonato na Série B de 2014 e na divisão de elite em 2015  e 2016.

Argumentei que o problema era mais embaixo, complexo e que envolvia outros pontos que poderei desenvolver aqui. É verdade que Gustavo Bueno paga o preço de ser o Judas da hora. Em instantes de turbulência na Ponte Preta, de forma inconsciente ou não, a diretoria sempre encontra uma maneira de tirar a responsabilidade das costas e jogar para aquele que é remunerado. Hoje é Gustavo Bueno, mas no passado foi Ocimar Bolicenho, em outros foi o ex-volante Marcus Vinícius, Márcio Della Volpe, Marco Antonio Eberlim – quando foi dirigente de futebol- e por aí vai. São fritos em fogo brando na opinião pública e descartados.

Gustavo Bueno cometeu um pecado excedente. Nesse aspecto, ele não pode culpar ninguém da diretoria executiva. O raciocínio é simples: nos anos de 2015 e 2016, Gustavo Bueno trabalhou com quantia razoável de dinheiro e o mercado á sua disposição tinha jogadores que pouco despertaram o interesse de gigantes. Esses estavam preocupados em adquirir atletas para pagar salários astronômicos. Este cenário possibilitou que no ano passado a Macaca tivesse no seu elenco para o setor ofensivo os seguintes atletas:  William Pottker, Rhayner, Roger, Clayson e Felipe Azevedo.

Queiramos ou não, o futebol não é uma ilha. Está ligada com a situação econômica do país. Com a queda do PiB e a da atividade econômica estagnada, cortes de custos foram necessário nas empresas. O futebol não fugiu a regra. Os gigantes passaram a invadir o nicho trabalhado por Gustavo. Exemplo clássico é do lateral-esquerdo Danilo Barcelo. Não foi contratado em janeiro porque o Atlético Mineiro ofereceu um salário cinco vezes maior. Impossível competir.

Dado o cenário a culpa de Gustavo Bueno recai na incapacidade de se reinventar após perder William Pottker para o Internacional e Clayson para o Corinthians. Ele perdeu dois protagonistas e colocou em seu lugar jogadores, no máximo, esforçados como Maranhão ou Negueba.

Se os recursos eram escassos e as portas foram fechadas, a saída seria buscar e pesquisar jogadores em mercados ainda inexplorados. Campeonato Mineiro, Gaúcho, segunda divisão do Paulistão ou até a Série B. A própria história da Macaca demonstra que garimpar talentos onde ninguém percorre dá resultados. Ou alguém sabia quem eram Renato Cajá e Elias antes do vice-campeonato paulista de 2008? Pois é.

Vou além: por ser boa praça, ótimo caráter e afável no trato, Gustavo Bueno não transmitia a energia e a autoridade necessárias para o cargo. Exerceu autoridade? Sim, mas longe do ideal.  Para piorar o quadro, Bueno foi “auxiliado” também pela inatividade do diretor de futebol, Hélio Kazuo. Ou seja, ficou como alvo solitário do canhão da torcida.

Você pergunta: por que tais aspectos não foram relevantes em 2015 e 2016? Por um motivo: a Ponte Preta na maioria do tempo contou com treinadores carismáticos como Gilson Kleina ou de personalidade forte, como Guto Ferreira e Eduardo Baptista, o que encobria tal necessidade. Eles dominavam o vestiário, enquadravam jogadores e tomavam as decisões. Vide agora o embate com contornos de guerra fria entre Emerson Sheik e Eduardo Baptista. Como o técnico tomou a frente no processo, o gerente de futebol fica livre de embaraços.

Só que tudo isso não pode perder de vista o essencial: Gustavo Bueno é empregado. Remunerado. Não foi votado. Se ele cometeu todos estes equívocos apontados é porque também recebeu a retaguarda da diretoria executiva, que já deu inúmeras provas de que não compreende os meandros do futebol e não sabe como corrigir a rota quando um subordinado adota uma postura equivocada. Como já escrevemos anteriormente, Gustavo Bueno errou no passado e erra no presente. Mas ele é coadjuvante nesta comédia de erros protagonizada por homens engravatados e refastelados em salas de ar condicionado.

(análise feita por Elias Aredes Junior)