Sobre Ponte Preta e uma obrigação para situação e oposição: colocar o negro como protagonista na diretoria executiva

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Torcedores e associados da Ponte Preta serão invadidos nos próximos meses por um mar de promessas e compromissos. É a dinâmica da eleição. Natural em qualquer clube. Cada um venderá o seu peixe da maneira que for mais conveniente. É do jogo. Márcio Della Volpe e Miguel Di Ciurcio representam a oposição e entrarão em campo com a promessa de novos tempos. Vanderlei Pereira e Sérgio Carnielli, por sua vez, vão enfileirar diversas realizações nos últimos quatro anos e prometer que o crescimento paulatino levará a Alvinegra ao paraíso. Caberá ao eleitor decidir o caminho adequado.

Tal dilema não impede de tocar em um assunto obrigatório tanto para um lado como para outro: a participação dos negros no topo do poder. Em um país desigual e sem oportunidades como o Brasil o tema já é relevante. Na Ponte Preta, torna-se obrigatório.

Em um mundo natural, as chapas a serem apresentadas deveriam contar com um número robusto de negros. Gente com tradição pontepretana e capaz de galvanizar o simbolismo presente na história da agremiação. Na concepção deste jornalista, quem falhar nesta tarefa, mesmo que seja vencedor cometerá um crime de lesa pátria. Manchará sua trajetória logo de saída. Por que? Quais os motivos para que os negros sejam protagonistas ao invés de coadjuvantes na diretoria executiva da Ponte Preta?

Quando digo protagonismo refiro-me, na pior das hipóteses, a uma das duas vice-presidências ou o comando do departamento financeiro. Os motivos para abrir a porta aos negros estão dentro da própria história da Ponte Preta.

O apelido de Macaca, por sua vez, foi uma sacada das arquibancadas do Majestoso, quando os adversários lhe insultavam como forma de provocação e diminuir o êxito como primeira equipe a abrir espaço aos jogadores negros, sendo que o primeiro foi Miguel do Carmo.

Por ser uma pioneira ao encampar a luta pelo espaço do negro na sociedade brasileira, a Alvinegra deveria encontrar-se atenta aos próprio drama vivido pela população negra no Brasil. Um retrato da desigualdade: segundo dados do IBGE, mais da metade da população brasileira (54%) é formada por pretos ou pardos (grupos agregados na definição de negros), sendo que a cada dez pessoas, três são mulheres negras. Desse total, 12,8% tem nível superior, enquanto os brancos de nível superior são 26,5%. O resultado é diminuto, mas o que impede a Alvinegra de sair na frente e bancar a inovação de mais integrantes na cadeia de comando? Por que as duas potenciais chapas não colocam tal preceito para debater?Pois é.

Tanto a situação como a oposição não podem fugir deste tema. Datas como o dia de Luta contra Discriminação Racial (21 de março) ou da Consciência Negra (20 de novembro) devem ser marcos na teoria e na prática. Não, não é concessão de cota. Seria uma indenização simbólica e um reconhecimento de que sem a força, pujança, luta e determinação dos negros, a Associação Atlética Ponte Preta não fosse esta máquina de acalentar corações na Região Metropolitana de Campinas. Como diria o pastor batista e célebre ativista político Martin Luther King: “A verdadeira medida de um homem não se vê na forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como se mantém em tempos de controvérsia e desafio”.

Que os homens ávidos pelo poder na situação e oposição levem tal preceito em consideração e abram as portas para que os negros ocupem o seu lugar no comando do clube mais velho do Brasil.

(análise feita por Elias Aredes Junior)