Sócio Torcedor na Ponte Preta: política de governo ou apenas um projeto decorativo?

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São mais de 21 mil participantes.  Uma parte de adimplentes que fornecem recursos para a Ponte Preta. Com razão devem pensar o seguinte: vale a pena participar do programa de Sócio Torcedor? É válido separar uma parte da renda mensal para sustentar o futebol do time do coração?

Antes , um esclarecimento: a diretoria da Macaca está correta em fazer promoções agressivas na reta final do Brasileirão. Ingressos a 10 reais e agora com valor de seis reais trazem ao estádio o torcedor de baixa renda, o pobre, miserável, aquele que não tem condições de comparecer em todos os  confrontos. Futebol não é o só o bilhete de entrada. Transporte, estacionamento, verba para lanche, cerveja ou aquisição de materiais do clube… Não faltam requisitos de gasto em um campo de futebol. Diante disso, a promoção é mais do que acertada. É necessária.

A necessidade não apaga um fato inequívoco: o presidente Vanderlei Pereira jogou por terra as promessas feitas em entrevista coletiva realizada no dia 20 de maio deste ano e publicada no site oficial do clube neste endereço. Na ocasião, além de lançar um plano de Sócio Torcedor com valor de R$ 39,90, seu compromisso foi a de encarecer os ingressos avulsos:

“(…) A palavra foi dada, a palavra vai ser cumprida. Da mesma forma agora, entrando no Campeonato Brasileiro, o valor do ingresso está definido, vai ser 100 e 50 reais. E não vamos voltar atrás. Tenha público ou não tenha público, vai custar 100 e 50 reais. Qual é o contraponto disso? Nós vamos ter o Torcedor Camisa 10 mais barato do Brasil. R$39,90. Agora pasmem. Quando você tem quatro jogos um ingresso vai custar R$9,98. Quando se tem três jogos vai ser R$13,30. Há possibilidade de se ter cinco agora em junho ou julho, vai para R$7,98, quer dizer, é incomparável o preço que vamos ter de ingresso com qualquer clube do Brasil. O que nós queremos com isso? Que o pontepretano vire Torcedor Camisa 10. Venha nos ajudar como 12º jogador e cobrir pelo menos o custo dos jogos. (…)”

Na ocasião, o dirigente esticou ainda mais o seu discurso e cobrou uma posição mais pró-ativa da torcida: “Repetidamente você tem pouca torcida em campo, e a cada hora aparece uma justificativa, é horário de jogo, é valor de ingresso, sendo que já fizemos inúmeras promoções, é porque o time não ganhou. Para mim, torcer para um time é com ele estando em alta ou em baixa, tem que torcer. E tem vezes no futebol inclusive que quanto pior está o time, mais torcida vai em campo apoiar: pega o Santa Cruz no Nordeste, pega o Corinthians quando esteve em baixa, o Internacional na Série B: lota o campo. Então por que quando nós, estando em alta ou em baixa, não ocorre isso? Em vez de apoiar, vir aqui uns 15 ou 16 mil para fazer o time levantar… é broxante. Você entrar aqui para jogar com 3 mil torcedores, eu se sou um jogador de alto nível, é broxante. Vamos ter vários jogadores de alto nível e o cara vem aqui, olha, 3 mil pessoas torcendo. Aí ele fala: ‘que saudade eu tenho de 30 mil, de 40 mil’. O pontepretano tem que mostrar algo diferente e acreditamos que vai mostrar, afinal somos a maior torcida do Interior”, afirmou.

Você está certo em dizer que ainda bem que o presidente pontepretano entrou em conflito com suas palavras. Quebrou a promessa em nome de um bem comum, a manutenção na divisão de elite do Campeonato Brasileiro. Impossível ignorar, entretanto, que sob o ponto de vista do consumo e da prestação de serviço, o participante do programa de Sócio Torcedor tem direito de sentir-se prejudicado. Lógico, o prejuízo maior seria disputar a segundona nacional. Por outro lado uma pessoa pagar seis reais e na prática ter os mesmos direitos daquele que paga mensalmente R$ 39,90 é uma distorção sem tamanho.

Após o Brasileirão, a diretoria da Macaca precisa adotar uma postura. Ou radicaliza e banca o programa de Sócio Torcedor, custe o que custar. Ou abraça a bilheteria sazonal e busca outras fontes de renda. Ficar no meio do caminho é que não dá.