Sunderland na Netflix e as lições ao futebol campineiro

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Sunderland fan sits dejected during the Sky Bet Championship match at the Stadium of Light, Sunderland.

Filmes, seriados e documentários sobe futebol é caminhar sobre o pântano. Um vacilo e tudo pode ser colocado no abismo. As exceções devem ser celebradas e usadas como reflexão como a série de oito capítulos “Sunderland Até Morrer” disponível na Netflix.

A história é simples. Uma equipe de filmagem e jornalistica acompanha a saga do time e seus torcedores por toda a temporada após o rebaixamento na Premier League. Certamente abraçaram o projeto por imaginar que aconteceria o acesso imediato. Nada disso. Após 46 rodadas, o Sunderland amargou a lanterna com 37 pontos e o passaporte à terceira divisão.

Quem apostou que tal cenário redundaria em uma história enfadonha e sem graça, enganou-se . Existe o relato do sofrimento dos torcedores, as dúvidas e angustias dos treinadores, as limitações e erros dos atletas e suas consequências e os lances emblemáticos no gramado. O Vilão? Ellis Short, o dono que virou as costas a comunidade e sequer falava com os treinadores, uma reclamação feita por Chris Coleman, que por seu carisma e jeito afetivo ganhou o protagonismo.

O que uma cidade inglesa, distante de Campinas, sem qualquer conexão com Ponte Preta e Guarani pode nos ensinar? Muita coisa.

Apesar da má fase e da queda eminente, o torcedor do Sunderland nunca abandonou o time. O estádio da Luz tinha público marcante, assim como nos jogos longe da sede. Uma mobilização que eletrizava a cidade. Deixe as questões culturais de lado. Esqueça por um instante as peculiaridades de cada país, Brasil e Inglaterra. Será que é normal uma cidade como Campinas, uma cidade com 1,2 milhões de habitantes possuir dois times que não chegam sequer a média de 10 mil pagantes por jogo? Até quando vamos aceitar a desculpa de que os times da capital atrapalham o crescimento dos dois times? É para refletir.

A relação do proprietário Ellis Short com a cidade de Sunderland é algo que deve ser levado em conta. Não queria contato ou envolvimento com ninguém. Não prestava contas e sequer falava com o treinador. É uma prova inequívoca que se a gestão empresarial tem inúmeras vantagens sob o ponto de vista administrativo, também é verdade que tudo isso vira água se o gestor não entender a necessidade de proximidade com a comunidade para entender suas características e carências.

É algo que vale para os dois clubes campineiros. Após 21 anos, será que Sérgio Carnielli e Vanderlei Pereira conseguiram entender o que significa dirigir a Ponte Preta e que estilo de dirigente as arquibancadas desejam? E Roberto Graziano? Sedento para assumir o controle do futebol do Guarani, terá perspicácia e intuição na apuração do que é ser bugrino e de que time aprecia o torcedor bugrino?

Por ultimo, deu para constatar  a excelência de estrutura do Sunderland, melhor do que boa parte dos clubes da Série B e de participantes da divisão de elite do Brasileirão. A campanha do time inglês demonstra que infraestrutura é vital, mas é o passo inicial. Sem a escolha adequada de atletas e um especialista em gerir equipes , não há estrutura que dê jeito.

Aqui em Campinas vivemos na corda bamba. Não há estrutura adequada nos dois clubes e os responsáveis pelo futebol precisam operar milagres. A história do Sunderland ensinou o básico: basta uma decisão errada para tudo desabar.

(análise feita por Elias Aredes Junior)