Segunda-feira e o expediente normal seria o torcedor da Ponte Preta invadir as ruas de Campinas para celebrar mais uma vitória no Campeonato Brasileiro. Ganhar do Fluminense deixou o time mais próximo do objetivo de superar a marca da campanha do ano passado, quando somou 51 pontos. Duro é que não há como fugir do assunto: a provável chegada de Luis Fabiano.
Vamos ao ponto: contratar Luis Fabiano é ganho de qualidade. Centroavante nato, fazedor de gols, participante de Copa do Mundo, experiente por passagem no futebol europeu e com destaque na mídia. Sem contestações. Sua ligação com a Ponte Preta é clara e transparente. Não viria para “roubar” a Alvinegra, jargão que designa atletas preguiçosos e que não dão o sangue.
Independente dos seus salários, a sua provável chegada é algo para ser discutido com profundidade. Vamos enumerar três motivos para celebrar ou outros três pontos para se preocupar. Leia, discuta, dê sua opinião na área e tire suas próprias conclusões.
Para começar, as três vantagens:
1-Projeção internacional- As notícias dão conta sobre um contrato de dois anos com o atleta. Mesmo aos 36 anos, o jogador tem nome na Espanha, Itália e no continente Sul-Americano. Sua possível presença abriria espaço para amistosos e torneios internacionais. Luis Fabiano exerceria o papel de um garoto propaganda e relações públicas para que a Macaca finalmente fique conhecida e projetada em várias partes do mundo.
2-Foco e liderança no dia a dia- Apesar do temperamento explosivo (especialmente com os árbitros) Luis Fabiano tem fama de ser um aglutinador e alguém focado na busca de objetivos coletivos. Por ser um jogador consagrado, ele teria condições de cobrar os companheiros com força no vestiário e não ser questionado. Seria o capitão de modo natural e a torcida aprovaria sem ressalvas. E uma liderança ambiciosa, que não se conformaria com a acomodação.
3- A volta do torcedor ao Majestoso- O retorno de Luis Fabiano produziria algo além da melhoria de bilheteria. Apesar de ter sido muito cobrado no seu início, o camisa 9 nunca esqueceu as raízes pontepretanas. Sempre citou com carinho a Macaca e seu torcedor. Sua imagem com a camisa da Veterana produziria de imediato uma reconciliação do clube com as arquibancadas. Talvez uma trégua surgisse no começo da temporada até acertar a equipe no Campeonato Paulista. Quem viveu os últimos meses no Majestoso sabe que isto não é pouco.
Nem tudo são flores. Uma série de consequências desconfortáveis poderia acontecer, sem participação direta de Luís Fabiano. Confira:
Blindagem à diretoria: A história é a mesma. Independente de quem esteja na diretoria ou no departamento de futebol. Contrata-se um craque renomado e na primeira sequência negativa de resultados, nunca o presidente ou dirigente imediato aparece para dar explicações. O jogador “medalhão” é colocado na fogueira. Foi assim com o goleiro Roberto e os atacantes Borges e Roger. E assim será com Luís Fabiano, caso sua contratação seja confirmada. Qual a consequência imediata? O debate fica truncado, a diretoria demora a admitir seus erros de modo público e as correções são postergadas.
Calibragem de expectativas: Apesar de encontrar-se com 36 anos, o desembarque de Luís Fabiano é sinônimo de luta por colocações nobres no futebol nacional. Sua carreira conduziu a tal estágio. Só é preciso fazer uma leitura adequada sobre as perspectivas. Um cenário é desembarcar e jogar com uma camisa do porte de Santos, São Paulo, Palmeiras ou Flamengo, equipes com altas arrecadações e com capacidade de trazer jogadores do porte igual ou superior ao de LF. O que dizer então da Macaca, com orçamento previsto abaixo de R$ 50 milhões para 2017? Como contratar coadjuvantes do mesmo nível do provável reforço se a cota de televisão é de R$ 28 milhões? Convenhamos: Luis Fabiano é um tremendo jogador. Mas não faz milagres. Se o resultado esperado não acontecer (exemplo: disputa de título) como ficará a relação da torcida com o jogador? A torcida saberá calibrar estas expectativas? Pois é.
Prejuízo na revelação de atletas: Luís Fabiano será sinônimo de gols. É verdade. Fato. Só que por duas temporadas já é certo que dificilmente um centroavante revelado pelas categorias de base ganhará chance de se revelar, atuar por várias partidas seguidas e firmar seu nome. A cadeira estará cativa. Não é um risco? Talentos não podem ser desperdiçados? Os dirigentes vão negar. Muitos dirão que não tem relação. No fundo, todos sabem que é verdade.
Não existe nada certo. Luis Fabiano poderá até deixar de desembarcar e gerar frustração. Algo, porém, é inegável: sua possível presença gera debate e discussão. E isso é bom. Ótimo.
(análise feita por Elias Aredes Junior)