Em um futebol cada vez mais profissional, pesquisar as razões e enumerar os motivos que levam a determinado fenômeno são atos necessários. Na Ponte Preta, a pergunta chave é em relação ao comparecimento da torcida no estádio Moisés Lucarelli. O patamar é insatisfatório. É preciso reconhecer e dimensionar o tamanho da insatisfação.
Este jornalista do Só Dérbi defende há tempos a necessidade de estabelecer parâmetros não como motivo de desagrado ou insatisfação mas como ponto de partida para mudança de costumes. Nas últimas duas semanas, uma pesquisa foi detonada para detectar o comparecimento médio da torcida da Macaca em relação a quatro concorrentes da divisão de elite: Bahia, Vitória, Coritiba e Atlético-PR. Por que o recorte? Pelo fato de serem concorrentes que podem ser comparados no médio e no longo prazo desde que a fórmula de pontos corridos foi implantada em 2003. Ao lado da Macaca, são os únicos integrantes de patamar médio que atuaram na primeira edição do Brasileirão no atual formato.
Os apressados irão dizer que não há como analisar porque são torcidas maiores e estão localizadas em Capitais. Para começar, seria de bom grado comparar o potencial de mercado dos cinco concorrentes. Ou seja, qual o tamanho de cada torcida:
Bahia: 4089012 torcedores
Vitória: 1.635.605 torcedores
Atlético Paranaense: 1.635.605 torcedores
Coritiba: 1.431.154 torcedores
Ponte Preta: 141.700 em Campinas e 375.000 na região metropolitana
Calma, a discrepância não pode servir de combustível para desânimo. Antes de tirar qualquer conclusão, pegue a renda média dos trabalhadores de cada cidade que abriga as equipes. Os dados são do IBGE e são referentes ao ano de 2014:
Campinas: R$ 3736 (População: 1.173.370 habitantes)
Salvador: R$ 3269 (População: 2.938.092 habitantes)
Curitiba: R$ 3829 (População: 1.893.997 habitantes)
As cinco equipes tem concorrentes indesejados para conseguir expandir a sua base torcedores. Em Salvador, de acordo com pesquisa do Ibope de 2014, existem 1,9 milhão de torcedores flamenguistas. Em Curitiba, a dor de cabeça atende pelo nome de Corinthians, com 1,5 milhão de simpatizantes. Em Campinas, aproximadamente 20% dos campineiros são corinthianos. Ou seja, todos têm obstáculos.
Se pegarmos o resultado da pesquisa do instituto Carlos Guimarães veremos que
27,1% dos torcedores pontepretanos ganham acima de 5 salários mínimos. Ou seja, existe espaço tanto para colocar torcedores de alta renda como também para atender as classes mais carentes, maioria na torcida pontepretana.
A pergunta que fica: a Ponte Preta utilizou todo o seu potencial? Vamos colocar duas estatísticas para refletirmos.
A primeira diz respeito a média de público registrada pela Ponte Preta e seus concorrentes no Campeonato Brasileiro de 2003, o primeiro na era dos pontos corridos e na edição de 2016. Todos apresentaram crescimento em um intervalo de 13 anos, mas a alvinegra foi aquela que registrou a menor taxa de crescimento:
Time Média em 2003 Média em 2016 Variação
Atlético-PR 8984 15751 75,32%
Coritiba 8515 9893 16,18%
Bahia 13042 17200 31,88%
Vitória 4918 13996 184,58%
Ponte Preta 4953 5309 7,18%
Todos também passaram por calvários, o que que poderia atrapalhar na captação de público. Nos últimos 14 anos, a Macaca participou de seis edições da segundona nacional, o Coritiba disputou três vezes a Série B, o Vitória tem cinco inserções na segundona e uma terceirona e o Bahia tem contabilizado sete presenças na Série B e outros dois anos na Série C.
Se pegarmos as últimas nove edições do futebol brasileiro, os cinco concorrentes apresentam variações significativas, mas a Alvinegra infelizmente é a única que não registra crescimento significativo em alguns anos. Veja os dados:
Atlético Paranaense: 2008-17027;2009-16638;2010-16377;2011-14179;2012-3323;2013-8772;2014-12238;2015-12833;2016-15751.
Coritiba: 2008-19254;2009-16575;2010-8989;2011-17894;2012-12579;2013-14651;2014-12329;2015-12071;2016-9893.
Bahia: 2008-3286;2009-13356;2010-18654;2011-22741; 2012-18981;2013-18449; 2014-12579;2015-15295;2016-17200.
Vitória(BA): 2008-15745;2009-13592;2010-15849;2011-11850;2012-16192;2013-14780;2014-10267;2015-13210;2016-13996.
Ponte Preta: 2008-3650;2009-3411;2010-4050;2011-5579;2012-6238;2013-6414;2014-6200;2015-6225;2016-5309
Duas observações. A primeira é que a Ponte Preta registra um crescimento paulatino, mas constante em sua média de público no período de 2008 a 2013, período que disputa das finais da Copa Sul-Americana. Com a perda do título, a queda na média aconteceu e de maneira mais forte de 2015 para 2016, quando o percentual foi de queda de 14,71%. No entanto, ao comparar a média de 2008 (3650) com a do ano passado, o crescimento é de 45,45%.
Não há como negar que os números pontepretanos ainda estão distantes de seus concorrentes de médio porte da divisão de elite. Se não é possível igualar, dá para sonhar com uma aproximação nas médias. O segredo é detectar qual a estratégia adequada para atrair uma legião de torcedores apaixonados por frequentarem o Majestoso.
(texto, reportagem e análise: Elias Aredes Junior)
(dados usados neste texto retirados do site do IBGE, Ibope, Paraná Pesquisas e Pluri Consultoria)