Uma reflexão sobre um equívoco da Polícia Militar no Moisés Lucarelli: achar que é dona do espetáculo. Não é!

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Tempos sombrios e difíceis. Exercer direitos é tarefa para poucos. Ser bem tratado parece algo distante. O futebol não foge à regra. O torcedor é submetido a uma tortura nos jogos no Estádio Moisés Lucarelli. Subitamente, o portão principal foi fechado e a entrada passou a ser pela rua Casper Líbero. Local estreito, de difícil acesso. Demora excessiva, filas intermináveis e inconvenientes que deveriam fazer parte do passado. A diretoria da Macaca afirma não ter qualquer relação com a ordem. É decisão da Polícia Militar. Que segue seu procedimento. Na prática, inutilizou quase um terço das arquibancadas. Pode ser pior. Quem vai se arriscar a comparecer ao Majestoso com tantas dificuldades?

Como contrapartida, a Polícia Militar deverá alegar maior facilidade para trabalhar. Com o portão principal aberto, a multidão fica mais dispersa e um tumulto de grandes proporções ficaria difícil administrar. Pode ser. Mas não é esse o foco de minha análise e sim a incompreensão da própria Polícia Militar sobre o seu papel em um jogo de futebol.

A instituição deve cercar-se de gente competente para fazer a segurança dos jogos e viabilizar que nada de anormal aconteça no retorno de cada torcedor às suas residências.

O que acontece no Majestoso é um fenômeno presente na vida nacional. Alguns (alguns!) servidores públicos não entendem o sentido da sua função. Consideram-se mais importantes do que aquilo que deveria ser o objeto de seu trabalho.

Traduzindo: se a diretoria e a torcida da Ponte Preta entendem como prioritária a utilização do portão principal, a Polícia Militar deveria enquadrar-se nas necessidades requisitadas e não impor condições em uma local privado. Ou será que alguém ficaria feliz se fizesse uma festa em sua residência para receber 50 convidados e subitamente um Policial surgisse e decretasse em alto e bom que todos só poderiam sair pela porta da cozinha?

A existência de perigo de manifestações ou confusões do lado de fora do Majestoso após derrotas deveria ser foco de um planejamento pormenorizado por parte dos policiais militares. Assegurar o fluxo de pessoas  e o direito de protestar nas proximidades do vestiário. Sim, é isso mesmo que está lendo. Este jornalista repudia agressões, depredação de patrimônio e qualquer tipo de ato fora da lei. Agora, se o time não jogou nada, decepcionou o seu torcedor, fica a pergunta: e a liberdade de expressão e manifestação assegurada pela própria Constituição Federal? Repito: desde que seja feito sem violência, é um direito sagrado.

Existiam policiais militares valorosos. Gente que atua por um salário pífio arrisca a vida atrás de bandidos e autores de crimes hediondos. Mas eles são servidores da sociedade e não o contrário.

Solução? Diálogo, respeito aos limites e o entendimento de que o futebol é para o torcedor e jogadores como protagonistas. Polícia Militar é, com boa vontade, contra-regra neste espetáculo que circula milhões. A busca da satisfação do público em conjunto com a segurança deve ficar em primeiro lugar. Hoje, temos uma arquibancada meia sola do Majestoso. Que pode trazer alívio aos comandantes da Polícia Militar por encontrarem espaços vazios nas arquibancadas. Mas dá uma punhalada na paixão imutável do torcedor.

(análise feita por Elias Aredes Junior)