Análise da Arena Ponte Preta: Ou uma maneira de desprezar a capacidade de raciocínio do torcedor e da imprensa esportiva de Campinas

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Jornalistas deveriam ser respeitados. A torcida da Ponte Preta idem. Não existe fato mais aviltante quando a nossa inteligência é desprezada. Sermos tratados como regra três. Integrantes de um reino do reino do faz de conta. Não consigo iniciar de outra maneira este texto ao tomar conhecimento do teor da apresentação da arena Ponte Preta na reunião do Conselho Deliberativo neste sábado, às 09h30.

Li o release enviado por um profissional que se apresentou como assessor de imprensa da Arena Ponte Preta. Vamos nomear a quem representa o assessor: Pedro Maciel Neto, Tagino Alves dos Santos, Sergio Carnielli e Vanderlei Pereira. São apoiadores de um projeto que querem vender como a oitava maravilha. Um clube com dificuldades para adquirir recursos para uma refeição tem agora sua disneylandia.

Camarotes, capacidade para 22 mil pessoas, padrão fifa, camarotes com ar condicionado, cabines de imprensa modernas…Todos esses atrativos ficam no chão ao percebermos duas falhas. Primeira: vivemos em um país afogado recessão e no desemprego. Dizer que todo o dinheiro virá da iniciativa privada é miragem. Como alguém pode investir se sequer oferecer emprego? Esta aí uma boa pergunta para ser respondida.

Os comandantes do projeto pensam que nós, jornalistas e torcedores da Ponte Preta somos alienados e relegam ao segundo plano a nossa capacidade de raciocínio.

Deixar de revelar os investidores é inadmissível. Outra falha. Repito: não dá para engolir. O Atlético Mineiro, por exemplo, já tem sua arena planejada e todos sabem que a MRV está no projeto. O que impede este grupo utilizar a mesma transparência? Por que não divulgar os nomes dos investidores? Medo de que? Mais: torcida quer saber de dinheiro para reforçar o time, chegar a primeira divisão e deixar tudo em dia. Arena? Se não estiver na Série A não adiantará nada. Elefante branco. Pior: um projeto imposto de cima para baixo, sem qualquer discussão ou debate. Ou seja, ou abraçam isso ou nada feito.

No dia 07 de junho este Só Dérbi trouxe a palavra dos dois principais especialistas em finanças de clubes no Brasil. Tanto Amir Sommogi como Fernando Ferreira foram enfáticos: a arena é inviável sob qualquer aspecto. Não lembram dos argumentos? Vamos relembrá-los.

Fernando Ferreira disse o seguinte: “A história de Arena Multiuso que foi utilizada no período pré-copa, esse negócio não vingou no Brasil. Todas foram construídas com a justificativa de que seriam multiuso mas a única que vem sendo utilizada é o Allianz Parque e um pouco a Arena da Baixada em Curitiba. Eu não vejo nenhuma chance de sucesso na implantação de uma Arena Multiuso pela Ponte Preta em Campinas. Nenhuma. Eu acho que a cidade comportaria mas ela sofre do problema de ser muito próxima de São Paulo. Então os shows muito grandes e que tem um custo muito alto o cara não vai a Campinas. O cara vai a São Paulo porque ele sabe que o fã vai de Campinas até São Paulo, porque é a mesma conurbação urbana. Não acredito em Arena Multiuso porque o business cultural fora do futebol é pequeno. As pessoas pensam que é grande, mas não é. E o Brasil por conta da moeda desvalorizada ele tem um problema no momento que é fazer encontrar-se fora da rota dos grandes shows internacionais”, disse Fernando Ferreira.

Quer outra opinião? Aqui está a de Amir Somoggi: “É uma completa loucura. Não tem a menor condição. Todos os times que embarcaram no estádio e mesmo as arenas estão com prejuízo. A operação é deficitária porque não há o conceito de multiuso, grandes shows. Existe uma limitação de receita e o jogo é muito mal trabalhado e a torcida gasta pouco. O time está na Série B. Tem uma série de questões que inviabiliza a Ponte Preta erguer sozinha o estádio. Se o Santos não consegue, se o Corinthians está sangrando, o Grêmio e o Internacional não conseguem, porque na Ponte Preta vai dar certo?”, afirmou Somoggi.

Se depois de ouvir duas análises tão avalizadas de analisadas tão renomados no futebol brasileiro e ainda acreditasse no projeto da Arena, seja ele qual fosse, eu trairia minha própria conduta profissional. Sem contar que o plano embute uma elitização. Ou seja: a expulsão do torcedor de baixa renda da arquibancada. Como acreditar? Já fui favorável a Arena. Após ouvir a opinião de quem entende e com argumentos sólidos, como continuar com o mesmo conceito? Impossivel.

Ao invés de pensarem na Arena, que estes associados pensem na Ponte Preta. Viabilizem a construção de um Centro de Treinamento. Sejam mais respeitosos com a comunidade pontepretana. Tenham respeito com que luta dia após dia para  tirar comida da boca para sentar na arquibancada.  Deixar de emitir o pronome Eu e passem a aplicar o Nós. Vocês verão que este tema ficará diminuto diante da grandeza da Ponte Preta.

(Elias Aredes Junior)

5 Comentários

  1. Modernizar com pessoas comprovadamente capazes é ruim….Gestão não pagando salários, atrasando impostos e negociações nebulosas deve ser apoiado! Um time sub23 ser essencial quando não honra nem compromissos básico também é aceitável….gente que nunca torceu para Ponte sendo praticamente quem da as cartas em cargo não remunerado também tem que ser engolido!!!!
    Mas uma arena que não só foi apresentada ainda com maiores detalhes sobre sua viabilidade porque entraram na Justiça em atitude anti democrática, impedindo que ela simplesmente seja colocada em discussão, se define que não é viável com argumentos no minimo estranhos. Sim, o Conselho não iria aprovar a discussão e sim somente o estudo da viabilidade. E isto será aprovado e estudada sim a possibilidade, está na hora dos aproveitadores e com interesses diversos saírem do barco. E necessário profissionalização e competência de quem gere a amada Macaca, o que vai atingir muita gente que hj se beneficia da bagunça administrativa instalada.

  2. Acho a modernização importante.. mas 22 mil… pra chegar numa final e ir jogar em SP ou mogi Mirim.
    Sei lá….acho que e trocar 6 por meia duzia

  3. Construir uma arena com capacidade maior, pensando na realização só de um eventual jogo seria muito desperdício. Ainda mais para a Ponte que não consegue colocar no seu dinossaurico e ultrapassado estádio, mais que 4.000 pessoas em média por jogo. Agora, comparar uma arena dessa (com esse projeto apresentado) a um estádio arcaico como o nosso, como se fosse trocar seis por meia dúzia…….