Caro Edu Dracena:
Tudo bem? Ao cumprimentá-lo sinto até vergonha de perguntar sobre seu estado de espirito. Fazer parte do pelotão de elite do futebol brasileiro deveria retirar seus problemas materiais, além de resolver questões familiares e de amigos próximos. Uma dádiva destinada a 1% dos atletas profissionais. Um prêmio para quem vive em um país como o Brasil, campeão de desigualdade social.
Ostentar bênçãos produz choque com amargura e ingratidão. Após o jogo contra o Guarani, o fel saía de seus lábios. “Sinceramente, eu não penso em voltar ao Guarani. O que eu tinha que fazer aqui eu fiz. Hoje, o meu pensamento é no Palmeiras. Se eu for encerrar minha carreira vai ser no Palmeiras. Não tenho vontade de retornar para cá”. Uma declaração ao Esporte Interativo que mistura desdém, revolta, amargura e falta de sintonia com o próprio passado.
Inconformismo porque não recebeu? Dirigentes lhe enganaram? Queria lhe dizer meu: você não é o primeiro a sofrer tal revés. Outros souberam separar as coisas.
Sua revolta atinge gente que você nem imagina. Sabe aquele roupeiro, massagista, de salário modesto e que trabalhava para deixar você em ótimas condições? E o técnico que lhe aprovou nas categorias de base? E torcedores que domingo após domingo tiravam comida da própria boca para comparecer ao Brinco de Ouro e assistir ao futebol de seus companheiros?. Pois é. A sua postura rancorosa atinge esses personagens. Queira ou não. Pense: eles merecem sua ira? Acredito que não.
Sua declaração mostra uma pessoa que acredita que venceu por si mesma. Não dependeu de ninguém. Engana-se. Futebol não é coletivo apenas no gramado. Também é fora do campo. Ao querer apagar o Guarani de sua vida você demonstra falta de empatia e rancor com aqueles que desbravaram caminhos inóspitos e transformaram ruas pedregosas em asfalto para você passar.
Sei que é devoto de Nossa Senhora Aparecida. E por ser um Cristão, penso que deveria ter em mente este versículo bíblico: “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro”. Está no livro de Mateus, no capítulo 6, versículo 24. Quem ama a Deus, ama pessoas. O futebol te leva a idolatrar o dinheiro. A cultuar Mamom. Todos viram números.
Aproveite o dinheiro, a carreira e tudo proporcionado pelo futebol. Não seja escravo da grana. Reconheça quem te ajudou e por vezes lhe amou sem lhe conhecer e não querer nada em troca. Muitas delas do Guarani Futebol Clube. Os homens maldosos passam. Os de bom coração são eternizados em nossa história. Não apague de sua trajetória quem lhe estendeu a mão. “O coração ingrato assemelha-se ao deserto que sorve com avidez a água do céu e não produz coisa alguma”. A frase é do escritor iraniano Muslah Al Din Saadi. Foi divulgada por volta de 1.200 D.C e é atual. Mas existe tempo para aprender e evoluir. Basta querer.
Um abraço
Elias Aredes Junior