Como a Síndrome de Rubens Barrichello produz atraso no futebol campineiro

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Luto contra o provincianismo. Penso em cidades e setores dinâmicos e modernos, prontos a receber colaborações. De todos. No futebol, não é diferente. Aos trancos e barrancos, Campinas adaptou-se aos novos tempos. Guarani e Ponte Preta receberam profissionais sem ligação umbilical com as camisas e obtiveram bons resultados.

O Guarani só obteve o acesso para a Série B graças ao planejamento de Rodrigo Pastana e a execução no gramado de Marcelo Chamusca. Anteriormente, nunca estiveram dentro do interior do Brinco de Ouro. Não foram forjados nas alamedas campineiras, no bate papo do Café Regina e do Largo do Rosário.

A Ponte Preta trilhou caminho idêntico. Gilson Kleina fez história com o acesso em 2011 enquanto Guto Ferreira deixou “viúvas”. O que pensar então do carioca Jorginho, herói do vice-campeonato da Copa Sul-Americana? Por um instante, parece utopia pensar em profissionais nascidos ou criados em Campinas com capacidade de dar as carta.

O futebol campineiro só foi diferenciado nas décadas de 1970 e 1980 porque a mão de obra e a intelectualidade, ou os engenheiros da bola foram formados aqui. Na Macaca, Pedro Antonio Chaib é considerado o maior diretor de futebol da história. No Guarani, Michel Abib deixou saudade e Beto Zini é lembrado para retornar. A recordação provoca lembranças de José Duarte, amado e respeitado nos dois estádios. Fato raro.

Chegamos ao Século 21 e o fato é que as revelações locais, de gabinete ou do gramado não empolgam. Vivemos uma síndrome vivida na Fórmula 1. Por 24 anos (1970-1994), o Brasil foi representado por três gênios nas pistas: Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna. Oito títulos mundiais no total. Foram sucedidos por Rubens Barrichello e Felipe Massa. Bons pilotos? Não há dúvidas. Mas não são gênios. Não surpreendem. Esse é o problema do atual futebol campineiro: no passado, a cidade teve dirigentes e jogadores acima do normal. Hoje, queremos de gente comum a mesma genialidade. Não dá.

Gustavo Bueno é filho do maior craque da história da Ponte Preta. Felipe Moreira é o herdeiro de um armador capaz de traduzir dinamismo em seus pés. Atributos de Dicá e Marco Aurélio Moreira são insuficientes para salvá-los do tribunal das Redes Sociais. Querem dos dois lances de gênios. Eles são mortais. Involuntariamente, ficam em débito com a galera.

Guarani, não fica atrás. Os presidentes não empolgaram e nem os eleitos para a direção de futebol. Impossível esquecer das dificuldades de Rogério Giardini, Waguinho Dias e João Secco. Todos afetados pela condenação Sumária. Sem réplica.

A atual década é marcada por algo comum nas duas equipes: perda de identidade, abandono da história e o envolvimento em um jogo de erro e acerto que não leva a lugar nenhum. Vivemos em uma redoma e aplicamos fórmulas prontas sem ligar para conjuntura. Como os gênios estão em falta, erros banais são cometidos.

Duas boas partidas de Ney da Matta no Boa Esporte contra o Guarani foram suficientes para sua contratação. Desprezamos a necessidade de realizar uma análise conjunta sobre o seu trabalho, se existiam variações táticas e se dentro desta metodologia cabia a colocação de Fumagalli. Melhor técnico mineiro? Excetuando-se Atlético Mineiro, América e Cruzeiro, o nível técnico é semelhante ao buscado pelo Guarani? Não. A frustração com sua passagem é consequência deste desleixo.

Na Ponte Preta, os dirigentes sempre se agarraram a tese de Felipe Moreira seguir os passos de Jair Ventura ou de Fábio Carille. Desde o início tinha dúvidas, especialmente porque ao contrário dos outros dois profissionais citados, Moreira  não era alguém incensado e defendido por cartolas nos bastidores quando outros “treineiros” estavam na área. Ninguém destacava uma característica especial de sua parte. Já Carille e Ventura sempre gozaram de prestigio explícito dos dirigentes. Faz diferença.

A verdade é que os dirigentes campineiros de hoje acreditam que são dotados da genialidade do passado. E que aqui é um celeiro de profissionais de alto gabarito como já foi em uma oportunidade. Seria de bom grado sair da redoma de vidro. O atraso em relação a outros centros já é latente. É hora de acordar. Para buscar a excelência. E fazer jus ao passado.

(análise feita por Elias Aredes Junior)