Como o processo de linchamento moral conduzido por torcedores e veículos de comunicação atrapalha o futebol campineiro

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Autor de dois gols contra o Sport, Clayson saiu ovacionado do estádio Moisés Lucarelli. Richarlyson, por sua vez, recebeu amplo de bugrinos após os protestos gerados por sua contratação. É uma notícia auspiciosa por combater algo presente nas arquibancadas campineiras e até nos meios de comunicação: o espirito de linchamento moral. É um mal da cidade. Precisa ser encarado, combatido e debatido.

Funciona da seguinte forma: um determinado atleta com reconhecido potencial técnico ou com espirito de liderança estreia com a camisa do Guarani ou da Ponte Preta e recebe críticas por sua primeira atuação irregular. Se não existir um treinador de pulso forte e com capacidade de transmitir sua importância nas entrevistas, o descarte é automático e o linchamento moral acontece. Muitas vezes com incentivo dos meios de comunicação. Também já cometi tal pecado e confesso meu deslize.

Na Ponte Preta os exemplos são claros. Ídolo do Atlético Mineiro, Marcos Rocha foi arrebentado pelas arquibancadas do Majestoso. Não teve segunda chance. Fernando Bob, hoje ídolo no Majestoso, foi colocado sob dúvida na sua chegada em 2013 e se não fosse o técnico Jorginho para banca-lo e o gol anotado contra o Veléz, hoje seria mais um no limbo da história pontepretana.

O Guarani por valorizar equipes técnicas e habilidosas, às vezes fica a um passo de descartar jogadores vitais. Modelo claro e acabado é Domingos. No ato de sua contratação, em 2012, o então técnico Oswaldo Alvarez escondeu a informação o máximo que podia. Quando vazou, a gritaria foi geral e sem sua determinação, o final não seria agradável.

O que fazer para melhorar tal cenário? Uma mudança de comportamento por parte dos clubes, torcedores e imprensa. Por parte das agremiações, as informações precisam ser transparentes para que com isso tanto comentaristas como repórteres façam o seu juízo de valor de maneira justa. No ano passado, Clayson passou por uma fase técnica terrível e foi fritado após a desclassificação na Copa do Brasil para o Atlético Mineiro. Só que a diretoria sabia que um dos motivos era o seu momento de luto pela morte do pai. Se tal dado viesse à tona, o enfoque não seria diferente? Sim.

Para torcedores e imprensa (grupo do qual estou incluído e admito minhas falhas), a saída é só uma: formação. É preciso aprimorar a leitura de jogo, detectar se existe perspectiva de melhoria em médio e longo prazo e verificar o histórico do jogador em clubes anteriores. Pesquisar se existe possibilidade de conceder um tempo maior ou não para sua adaptação. Retomo a história anterior: por tudo que fez no Fluminense e Vitória Fernando Bob mereceria uma posição mais complacente no início de sua estadia, além de Domingos, que, apesar de sua fama de violento na época, tinha um incontestável espirito de liderança.

Agora, não há como ser condescendente com atletas limitados como o zagueiro Fábio Ferreira ou Uederson, recentemente desligado do Guarani. Ora, se o histórico de tais atletas é ruim, o que justificaria esperar 10, 15 ou 20 jogos para aparecer um futebol de alta qualidade? Bom senso e compromisso com a verdade é a resposta. Outro caso é quando o jogador decepciona ou não pode mais render aquilo que pode. O crítico não pode se eximir de cobrar e fazer suas ponderações. Dois casos são emblemáticos. Na Ponte Preta, Renato Cajá vive as voltas com lesões e parece envolvido em um ciclo de negativismo. No Guarani, Fumagalli aos 39 anos precisa ser analisado com maior cuidado sim. Afinal, jogar duas vezes por semana já desgasta jovens, imagine um atleta experiente.

As atuais Séries A e B são belos laboratórios. Salvo algum fato excepcional, acredito em campanhas medianas de bugrinos e pontepretanos. Reforços vão chegar e a dificuldade de adaptação será inevitável. Uma boa dose de paciência e de compreensão nas arquibancadas e para quem porta o microfone (não confundam com jornalismo chapa branca! É bem diferente) pode ser uma ajuda preciosa para que o mês de dezembro seja de celebração em Campinas e não de lamento.

(análise feita por Elias Aredes Junior)