Em Campinas, Sócio Torcedor não vota para presidente. Isso precisa mudar!

0
1.057 views

Ponte Preta e Guarani terminaram oficialmente as suas participações no futebol profissional em 2016. Pelos próximos dias, tudo vai girar em torno daquilo que for tratado nos gabinetes em relação aos reforços de 2017. Opa, nem só isso. As eleições serão outro assunto prioritário. Ambos terão o próximo período como marco de renovação das suas diretorias.

No Guarani, Palmeron Mendes Filho deverá ser o candidato da situação enquanto a oposição tenta se articular. Na Macaca, existem duas saídas: ou Vanderlei Pereira concorre ao novo mandato ou junta-se ao presidente Sérgio Carnielli para apoiar o vice-presidente Giovanni Di Marzio. Do outro lado, uma chapa deverá ser liderada pelo ex-mandatário Márcio Della Volpe, pronto para ser um cabo eleitoral de peso caso venha a ser impedido de concorrer pela justiça e pelo estatuto do clube. Com duas resoluções tão complexas pela frente é triste imaginar que nenhum dos dois tenha dado o passo de vanguarda para permitir a participar do sócio torcedor na eleição dos comandantes do poder executivo, uma tendência reinante nos clubes brasileiros.

Em Campinas, ainda reina a metodologia consagrada nas décadas de 1970 e 1980. Ou seja, você adquire um título de sócio e após determinado período ganha o direito de votar. Penso que tal estratégia é equivocada. Na época era válido. A classe média vivia em condomínios sem espaço para lazer e os clubes sociais era o espaço encontrado para a convivência social além de pegar uma piscina, sauna e participar de eventos sociais. O futebol beneficiava-se do montante de recursos viabilizados pelos sócios e contratava. Hoje tudo mudou. Os complexos residenciais, inclusive aqueles destinados a baixa renda, contam com espaço para lazer e entretenimento. Os clubes sofrem um esvaziamento constante e progressivo. O Juventus por exemplo já foi o maior clube da América Latina. Não é mais. Longe disso. Pense: neste mecanismo anterior era justo conceder o direito de voto a quem de certa forma viabilizava financeiramente o departamento de futebol. Hoje, esta conta passa pelos direitos de televisão, venda de uniformes oficiais e o montante arrecadado pelo sócio torcedor. Eles têm o poder de vitaminar o departamento de futebol.

Algumas agremiações perceberam o potencial deste contingente e não tiveram pudor de mudar. Recentemente rebaixado a Série B, o Internacional (RS) tem uma modalidade de sócio torcedor (Campeão do Mundo) que dá direito a voto na escolha do presidente.  No Fluminense, o presidente eleito Pedro Abad precisou direcionar sua campanha aos sócios torcedores, pois na última eleição estavam habilitados a participarem 7,8 mil associados pela modalidade antiga e outros  5,8 mil da categoria sócio futebol.

A frustração por mais uma eliminação na Série C do Brasileirão não tirou a reeleição de Jorge Mota no Fortaleza, que precisou pedir votos para 1.444 eleitores, entre sócios-torcedores, sócios-proprietários e conselheiros,

De um jeito ou de outro, Ponte Preta e Guarani vivem um período de conflito com seus torcedores. No Majestoso, a relação de Sérgio Carnielli exibe sinais de desgaste enquanto que a briga entre Horley Senna e Roberto Graziano trincou uma confiança que parecia inabalável. Hoje, os dois colégios eleitorais de Campinas dificilmente chega a mil eleitores cada um. Pior: a desmotivação toma conta. Parece que não adianta discutir, trocar ideias e reclamar. A sensação transmitida é que a decisão está na mão de poucos.

Tenho convicção que ao abrir a participação do sócio torcedor (mesmo com uma exigência de vinculação mínima de dois anos, por exemplo) para a escolha dos integrantes do poder executivo o espirito reinante no Brinco de Ouro e no Majestoso seria outro. O torcedor passaria a contar com a perspectiva de interferir nos destinos do clube. A piscina, a atividade social não seriam mais passaportes para definir quem administraria os recursos destinados para viabilizar aquilo que a razão de ser qualquer equipe: busca por vitórias e títulos. Detalhe: o Guarani ao designar a eleição de cinco sócios torcedores para a composição do Conselho Deliberativo coloca-se a frente da Ponte Preta neste quesito. Mas é preciso avançar mais. Muito mais.

Você pode alegar incompatibilidade da teoria com a prática. Que os clubes são fechados, sem espaço de abertura. Ninguém lhe avisou que as revoluções são feitas de fora para dentro? Já passou da hora do debate ser instalado. Campinas pede e merece democracia radicalizada. O futebol exige.

(análise feita por Elias Aredes Junior)