Especial: o menino não deixa o homem desistir do futebol campineiro

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Escrevi diversos artigos. Ponte Preta e Guarani são fontes inesgotáveis. A fonte nunca seca. Controvérsia, debate. Xingamentos no roteiro. Duro mexer com paixão. Apontar os defeitos. Montanha russa sem trava e sem colchão de proteção no chão.

Assim como eu, vários lutam, estudam, batalham, alertam e nada parece sair do lugar. O que faz a gente continuar? O que provoca esta decisão de utilizar o nosso ofício, o jornalismo, em prol de uma brincadeira infantil com conotação séria?

Talvez esta seja a explicação: infância. Inocência. Não no sentido de ser iludido ou enganado facilmente, mas na obsessão de querer ver o que é o futebol: um esporte capaz de arrancar um sorriso de uma criança, seja ela uma moradora de rua, uma residente em bairro periférico ou agraciada com recursos.

Passo os dias em reflexão e fico confuso. Não consigo nutrir os pensamentos de uma parte dos jornalistas esportivos bem sucedidos. A propaganda, a luta para assegurar a sobrevivência, o lugar ao sol, a dignidade. Não é minha praia. O que roda a cabeça são viagens ao passado.

O cenário? O Jardim Amazonas. Ou a avenida Moraes Sales, o abrigo da escola Francisco Glicério. A quadra, a bola furada, a roupa surrada da escola, a rotina que forjão a paixão. Assim como dias, meses e anos internado em algum hospital de Campinas.

Batalha pela vida sem prazo e um aliado: o rádio. O menino asmático, entupido de corticoides e, por vezes, sem esperança ganhava um sentido de viver ao ouvir Brasil de Oliveira e Zé Arnaldo pelas ondas do rádio.

Em 60 minutos, dois temas: Ponte Preta e Guarani. Guarani e Ponte Preta. O garoto gordinho imaginava: o que faz com que eles tenham tanta paixão? O que motiva?

O sofrimento tinha um fim. Nunca era eterno. Voltava para casa e ficava de repouso aos cuidados de uma mãe zelosa e uma irmã parceira. Só via o pai ao final do dia. Dia puxado, cobranças na multinacional. O aparelho amarelo ficava sintonizado na Rádio Globo de São Paulo. Osmar Santos fazia meu pai sorrir. Alento em meio a tanta falta de grana.

O tempo voou como jato.

Estudei, cresci, casei e vivi a aventura de ser e continuar sendo jornalista esportivo. O ranzinza, o chato de galocha, o implicante no fundo esconde o essencial: um cara de 45 anos que utiliza sua profissão para voltar a sonhar e ser criança.

O desejo de ver Campinas como naquelas tardes douradas das décadas de 1970, 1980 e 1990. Nesta trajetória, o homem maduro cai, levanta, chora, quase desiste, persiste. E sonha. Porque o menino não deixa o homem acordar. Imaturidade? Ou querer ser feliz. Nem que seja por 90 minutos.

É difícil, duro, quase impossível. O homem formado poderia desistir. O menino dentro dele não deixa. Nunca deixará.

(texto de autoria de Elias Aredes Junior)